O ministro da Agricultura, Antonio Andrade, viaja na sexta-feira a Pequim para negociar prazos para liberação comercial de novos tipos de soja transgênica tolerantes a herbicidas e resistentes a pragas cuja agressividade têm ampliado os estragos na produção brasileira. Andrade também pedirá às autoridades chinesas a retomada das importações de carne bovina, suspensas pelo país asiático desde o anúncio, em dezembro de 2012, do caso atípico de "vaca louca" no Paraná.
No caso da soja, a estratégia será mostrar o tema como questão de Estado por envolver a Embrapa, uma empresa pública brasileira, nas negociações. O "escudo" servirá para arrefecer a crescente rejeição dos chineses à tecnologia transgênica, avalia-se no governo. A China ainda não concedeu registro comercial a novas variedades transgênicas. Entre elas, estão a Cultivance, desenvolvida pela parceria entre a Embrapa e a multinacional Basf, e a Intacta RR2, propriedade da americana Monsanto.
Em virtude disso, as variedades ainda não foram lançadas comercialmente no mercado brasileiro. A RR2 obteve aprovação no Brasil em agosto de 2010, e já está liberada em 12 outros países e na União Europeia, segundo a empresa. A demora no sinal verde para a importação preocupa os produtores, que estão impedidos de plantar essas novas sementes em razão da rejeição chinesa, maior mercado mundial para a soja brasileira.
A cultivar da Monsanto, por exemplo, promete colheita de quase 60 sacas de 60 quilos por hectare - na média, a Conab prevê uma colheita de 49,3 sacas na safra 2012/13 -, além de garantir resistência à lagarta Helicoverpa armigera, cujos estragos superam R$ 2 bilhões entre elevação de custos e perda de produtividade. Nos bastidores, informa-se que a múlti poderia atender a 10% da área plantada no Brasil com a RR2, ou 2,7 milhões de hectares.
Há duas semanas, o presidente da Aprosoja Brasil, Glauber Silveira, e o senador Blairo Maggi (PR-MT), estiveram em Pequim para tratar do tema. E, pelo relato, os chineses estão refratários aos novos transgênicos. "Ficou nítido o interesse das empresas por soja convencional", afirma Silveira. "Nos foi colocado que a grande massa é menos sensível à diferenciação transgênico e convencional. Compra o mais barato. Mas uma parcela da população chinesa melhor colocada financeiramente teria preferência por produtos não transgênicos". Nesse contexto, empresas importadoras mostraram interesse em criar um mercado específico para a soja convencional, mesmo se tiverem que pagar mais.
Veículo: Valor Econômico