Em média, ganho real de 93 acordos contabilizados neste ano é de 1,4%; desemprego baixo eleva poder de barganha
Força Sindical diz defender a volta do gatilho salarial; CUT e demais centrais são contra a proposta
De cada 10 reajustes salariais concedidos neste ano, quase 9 (86%) conseguiram ganhos reais (acima da inflação), mostra levantamento do Dieese a partir de 93 acordos salariais de janeiro a abril.
Em média, o ganho dos acordos foi de 1,4% acima do INPC, índice do IBGE que mede o custo de vida de famílias de até cinco salários mínimos e está mais alto que a inflação oficial, medida pelo IPCA.
No acumulado dos 12 meses encerrados em março, o INPC estava em 7,22%, enquanto a inflação oficial foi de 6,59% no mesmo período.
A média de ganho real desse levantamento parcial foi menor que o resultado do primeiro semestre de 2012 (em que a alta foi de 2,23% na média de 370 negociações), mas vem num momento em que economistas e o governo têm se declarado preocupados com a inflação.
Como a taxa de desemprego do país está em um de seus níveis mais baixos (5,7%), os trabalhadores têm mais força de negociação para obter aumentos reais. Isso, por outro lado, provoca aumento de custo para as empresas, parte dele repassado aos preços.
Dos reajustes firmados até abril, 5,4% (5 acordos) zeraram as perdas da inflação e 8,6% (8 acordos) ficaram abaixo do INPC.
REFLEXO DA INFLAÇÃO
"A elevação da inflação tem reflexo direto no reajuste e sobretudo no tamanho do ganho real", afirma José Silvestre Prado de Oliveira, coordenador de relações sindicais do Dieese.
"Quem negociou em abril teve de enfrentar inflação acumulada de 7,08%. Em abril de 2012, foi de 4,97%."
Os maiores aumentos reais foram obtidos pelo setor de asseio e conservação do Amazonas e da construção civil de João Pessoa (PB) --3,58%.
O Dieese prevê que em 2013 a maioria dos reajustes concedidos fique acima da inflação, mas em menor proporção do que em 2012.
No ano passado, 94,6% superaram o INPC.
Para Fábio Romão, economista da LCA Consultores, o rendimento médio real dos trabalhadores deve cair neste ano em razão do menor ganho do salário mínimo, parâmetro para reajustar categorias menos organizadas e não formalizadas.
O aumento real do mínimo neste ano foi de 2,7%, ante 7,5% no ano passado.
A inflação divide as centrais sindicais. Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical, defende a volta do gatilho salarial a cada três meses.
Para Vagner Freitas, presidente da CUT, a bandeira é "eleitoreira" e não salarial. As demais centrais também são contrárias ao gatilho.
Veículo: Folha de S.Paulo