A disparada dos preços dos alimentos, que cresceram nos últimos 12 meses num ritmo duas vezes superior à inflação, afetou as vendas de alimentos e bebidas na indústria e no varejo nos primeiros meses deste ano.
Duas gigantes do setor, a BRF, que produz alimentos industrializados, e a Ambev, fabricante de cervejas, sentiram dificuldade para vender seus produtos no mercado doméstico no 1° trimestre deste ano e culparam a inflação por isso.
"Estamos em boa condição no momento, mas preocupados porque o mercado interno está com grande dificuldade de absorver volumes", disse o diretor-presidente BRF, José Antonio do Prado Fay, ao apresentar os resultados da companhia. Apesar da dificuldade, no 1° trimestre deste ano a receita com vendas domésticas somou R$ 4,069 bilhões, com alta de 4% em relação ao mesmo período de 2012.
A Ambev registrou queda de 7,1% nas vendas de cerveja no 1° trimestre, na comparação anual. Segundo o diretor-geral, João Castro Neves, a inflação de alimentos e a desaceleração do crescimento da renda disponível do consumidor foram apontadas como os principais fatores para o mau momento do consumo de bebidas.
O recuo captado pela indústria já se traduziu em números para o varejo. Pesquisa encomendada ao instituto Nielsen pela Associação Brasileira de Supermercados mostra que o volume de vendas de uma cesta com-| posta por 130 categorias de produtos caiu 1,6% no 1° trimestre I deste ano em relação a igual período de 2012 e aumentou 0,5% em valor, já descontada a inflação. Isso significa que o consumidor levou menos quantidade de produtos para casa e gastou mais dinheiro.
Os maiores recuos de vendas foram registrados em artigos de higiene e beleza (3,5%), mercearia doce (3,1%), mercearia salgada (3%) e, bebidas alcoólicas
As vendas de cerveja caíram 3,2% nos supermercados brasileiros no 1° bimestre na comparação anual. As carnes congeladas recuaram 7,5% no período. "Isso é reflexo do cenário de endividamento elevado das famílias e da desaceleração da economia no curto prazo"7, disse o gerente de atendimento da Nielsen, Fabio Gomes da Silva.
Para o presidente do Conselho do Provar, Cláudio Felisoni de Angelo, essa retração não surpreendeu. "Como a inflação re tira renda e funciona como um imposto regressivo, isto é, castiga os mais pobres, é natural uma queda no consumo de alimentos e bebidas", disse ele.
Em 12 meses até março, o IPCA, a medida oficial de inflação, subiu 6,59%. Nesse mesmo período, a inflação de alimentos e bebidas atingiu 13,48%.
Tendência. Já na avaliação do professor Nelson Barrízzelli, da Universidade de São Paulo, ainda é cedo para dizer que a retração no consumo de itens básicos é uma tendência. Para ele, os indicadores de consumo são discrepantes. Como exemplo ele cita as vendas de veículos, que estão aquecidas. É que normalmente o corte no consumo começa por bens duráveis e termina nos itens básicos.
Veículo: Estado de S.Paulo