A captação de leite dos maiores laticínios do país recuou no ano passado, quando o setor sofreu com queda de rentabilidade e custos mais elevados.
Conforme o ranking dos maiores laticínios do país elaborado pela Leite Brasil - associação que reúne produtores -, a DPA Manufacturing Brasi l, que compra leite para Nestlé, Fonterra, DPA Brasi l, DPA Nordeste e Nestlé Waters, adquiriu 1,958 bilhão de litros da matéria-prima em 2012, quase 8% menos que no ano anterior. A LBR - Lácteos Brasil, segunda na lista, reduziu em 6,3% suas compras de leite, para 1,576 bilhão de litros.
A mineira Itambé, que ficou em terceiro no ranking, cortou de forma ainda mais expressiva a captação - 13,2% - para 955 milhões de litros em 2012. No ano anterior, havia comprado 1,1 bilhão de litros.
A queda na captação de leite de LBR e Itambé coincide em parte com o período de crise dessas duas empresas. A primeira, resultado da união entre Bom Gosto e Leitbom, pediu recuperação judicial no começo deste ano, com dívidas de cerca de R$ 1 bilhão. Já a cooperativa mineira acabou vendendo, em fevereiro, uma participação de 50% no capital da Itambé S.A para a Vigor, controlada pela J&F (também dona da JBS), por R$ 410 milhões.
A Vigor, aliás, também adquiriu menos leite para processamento em 2012, segundo a pesquisa. A queda foi de quase 9%.
Apesar de ser uma das maiores produtoras de lácteos do país, a BRF não divulga os seus dados para o levantamento da Leite Brasil.
"No ano passado, tanto o produtor quanto a indústria tiveram prejuízo", afirma Jorge Rubez, presidente da Leite Brasil, comentando os números do ranking. Enquanto o pecuarista enfrentou alta de 27% nos custos de produção no ano, laticínios diminuíram as compras de matéria-prima para reduzir as perdas, explica o dirigente.
No total, a captação dos 13 maiores laticínios do país aumentou apenas 1,6%, percentual pouco superior ao crescimento estimado da produção brasileira de leite no ano passado. Conforme a Associação Brasileira do Leite Longa Vida (ABLV), a produção total cresceu apenas 1% em, 2012, para 33,7 bilhões de litros.
A menor captação não tem relação com queda no consumo de lácteos, afirma Rubez. Ele observa que a demanda é crescente: o consumo de leite per capita aumentou 4,2% no Brasil, para o equivalente a 180 litros por ano.
Se os maiores laticínios brasileiros reduziram a captação, houve espaço para o incremento das compras de leite por empresas de porte médio a grande. Segundo o levantamento da Leite Brasil, a Italac ampliou em 11% a captação de matéria-prima. Já o Laticínios Bela Vista (Piracanjuba) aumentou em 28,4% os volumes adquiridos e a Jussara, 5,5% (ver ranking acima).
"Em algumas regiões, há laticínios que não têm concorrência por isso eles aumentaram a captação", afirma Jorge Rubez.
Laércio Barbosa, diretor da Jussara, diz que, em 2012, "a indústria pagou mais caro pela matéria-prima e teve que vender por menos". Mas ele espera um cenário melhor em 2013 e afirma que a Jussara já ocupa espaço que era da LBR no mercado.
Rubez também está otimista e acredita que a captação de leite deve voltar a crescer, em 2013, no ritmo visto em anos anteriores, de 4%. "A indústria terá de repassar preços para recuperar rentabilidade", avalia.
Veículo: Valor Econômico