Em tempos em que a tecnologia dita hábitos de consumo, o ato de presentear pode se tornar uma tarefa difícil, principalmente em razão da variedade, preço alto e complexidade de alguns destes produtos. Em casos assim, uma solução tradicionalmente adotada por várias pessoas em datas especiais, como o Dia das Mães, é recorrer às flores e plantas ornamentais na hora de presentear, artigos que nunca saem de moda e tocam o coração de quem os recebe.
Na cidade de São Paulo, um dos pontos mais tradicionais de venda de flores é a avenida Doutor Arnaldo, perto do Cemitério do Araçá, na zona oeste. Lá, 23 boxes comercializam desde espécies mais comuns e acessíveis, como rosas e crisântemos, até as orquídeas, mais raras e até cobiçadas por colecionadores. Apesar de o ponto ser tradicional e consolidado, e também daqueles que ainda preferem as flores, há alguns anos, os comerciantes estão vendo suas vendas caírem cerca de 10% ao ano.
Ana Moura, gerente de boxe, diz que os comerciantes apostam nas datas comemorativas para aumentar as vendas. Já Ana Lago, proprietária, afirma que o movimento caiu na madrugada e que há falta de segurança. Jocival Santana, gerente de boxe na Dr. Arnaldo: ‘Hoje as pessoas compram flores em supermercados’./ Newton Santos-Hype
Os números chamam a atenção, já que na última década, de acordo com o Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor), o mercado de flores e plantas ornamentais cresceu em média 12% ao ano no País. Razões para o aumento, segundo a entidade, são a melhoria da qualidade, diversidade de produtos, aumento da eficiência da cadeia produtiva e maior acesso dos produtores às linhas de crédito para investimento.
Concorrência – No Mercado das Flores do Araçá, os vendedores apontam a grande concorrência como a principal causa da queda nas vendas. "Antigamente não haviam tantas opções. Hoje, além da venda nas nas ruas, como o largo do Arouche, as pessoas compram flores em supermercados, por exemplo. Além disso, depois que a Ceagesp começou a vender flores com preços mais competitivos o prejuízo aumentou", diz Jocival Santana, gerente do boxe 2 e que trabalha no local há 35 anos.
Outra dificuldade enfrentada pelos comerciantes – mais especificamente dos boxes 1 ao 6 – é a proibição de estacionamento na rua a qualquer hora do dia. Já dos boxes 7 ao 23, é permitido parar por 15 minutos com o pisca alerta ligado. "Mesmo com as restrições, sempre que posso, paro o carro para comprar. Aqui é uma ilha de flores no meio da cidade e não existe melhor presente. Além da beleza, as flores nos cativam pelo aroma, forma e textura”, afirma a médica veterinária Hannelore Fuchs, de 86 anos.
Hannelore se enquadra perfeitamente no perfil dos clientes do mercado. Geralmente, são pessoas que voltam do trabalho para casa, nas zonas oeste e sul, e que pertencem às classes A ou B. A qualquer hora do dia ou da noite existem barracas abertas na Doutor Arnaldo. Mas já foi melhor. Até o ano 2000, quase todos os boxes funcionavam 24 horas. "Não há mais tanta demanda de madrugada. A presença de mendigos e moradores de rua também colabora para a sensação de insegurança", afirma Ana Alves Lago, proprietária do boxe 23 há 12 anos. Atualmente, sua banca funciona das 7h às 21h.
Horário semelhante faz a gerente do boxe 18, Ana Moura, no local há 6 anos. Para compensar a queda nas vendas diretas, atualmente 50% de seu faturamento vem da entrega de flores. "É um presente que todas as mulheres gostam de ganhar. Mas quando falta dinheiro, a primeira providência das pessoas é cortar o supérfluo. E as flores, infelizmente, são consideradas supérfluas", diz. "Nossa salvação são justamente as datas comemorativas. No Dia das Mães, as vendas nos boxes praticamente dobram", ressalta a comerciante.
Disponibilidade – Segundo o diretor 1º vice-superintendente da Distrital Pinheiros da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Humberto Luiz Dias, a entidade está de portas abertas para ouvir as reivindicações dos comerciantes do Mercado de Flores do Araçá, principalmente no que se refere à proibição de estacionamento em frente a algumas bancas. "Todos que se sentirem prejudicados estão convidados a participar de nossas reuniões. Com base nas reivindicações, podemos entrar em contato com a CET ou com a subprefeitura para ver o que é possível fazer no local, de grande importância e tradição para o bairro", afirmou.
No inicio da década de 1950, a Doutor Arnaldo, uma avenida de paralelepípedos, já tinha o tradicional comércio de flores. As vendas eram feitas informalmente, na rua, perto da faculdade de medicina. Por volta de 1970, a feirinha ganhou os primeiros estandes improvisados, cobertos de lona. As instalações, como são hoje, surgiram na década seguinte. Os 23 boxes de flores – atualmente três estão fechados – são cadastrados na Prefeitura e seus proprietários possuem o Termo de Permissão de Uso (TPU).
Veículo: Diário do Comércio - SP