Falta de capacidade de execução e escassez de recursos travam avanço

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A incapacidade de usar os recursos públicos disponíveis para a infraestrutura logística ao lado da escassez desses recursos formaram a parceria cruel que travou, nos últimos anos, o ritmo esperado para a recuperação do passivo do setor. Essa foi a análise feita por Carlos Campos Neto, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a partir de estudos sobre os investimentos públicos autorizados para rodovias, ferrovias, hidrovias e para aeroportos e aqueles efetivamente realizados entre os anos de 2003 e 2012. "Na média, a capacidade de execução dos recursos autorizados ficou em 61%", disse.

O modal menos eficiente para gastar o dinheiro foi o rodoviário, para o qual foram autorizados R$ 104,8 bilhões no período e gastos apenas R$ 70 bilhões, ou 67%. Em segundo lugar, estão as ferrovias, com execução de 60% sobre os R$ 17 bilhões autorizados. "Estamos bem longe do investimento necessário, mas a ineficiência nos gastos é um entrave sério, pois não adianta nada ter os recursos e não ter capacidade de transformá-los efetivamente em obras", analisa.

De acordo com as pesquisas do Ipea, os investimentos brasileiros no setor são equivalentes, atualmente, a 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2014, o percentual pode chegar a 1%. Ainda é muito pouco. Países competidores com o Brasil na arena internacional têm feito investimentos de 3,4% do PIB. "A ineficiência para a execução agrava o problema, pois, no final das contas, significa diminuição efetiva de dinheiro", conclui.

"O ritmo de realização é fator-chave para deslanchar a competitividade do país", analisa Antonio Correa de Lacerda, professor do Programa de Estudos Pró-graduados em Economia Política da PUC/SP. Segundo ele, a infraestrutura está na posição estratégica de garantir a competitividade sistêmica. Ou seja, dar condições reais para que as políticas macroeconômicas estimulem efetivamente a produtividade no nível microeconômico, de atuação empresarial.

Segundo o Relatório Global de Competitividade 20112-2013, divulgado pelo Fórum Econômico Mundial, na Suíça, no ano passado, o Brasil avançou 10 pontos em três anos. Mas, ainda perde para a Turquia, China e Coreia do Sul. "Depois da burocracia, a infraestrutura é o segundo grande desafio", diz Lacerda. Para ele, o problema de execução dos projetos não é um problema apenas público. "O setor privado também enfrenta as questões regulatórias, a burocracia, conflitos de competência e de ordem administrativa e burocrática que comprometem o ritmo de realização", explica.

Em relação aos volumes destinados à infraestrutura de logística, o economista da PUC/SP conta que na carteira de investimentos planejados para o período de 2011 a 2015 para infraestrutura, seus estudos mostram mudança de prioridades, em comparação a 2003 a 2011. Com base em dados da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdid), sem incluir os pacotes do Programa de Investimentos em Logística (PIL), os transportes subiram de terceiro para segundo lugar no ranking de participação do volume total de recursos. Dos R$ 922 bilhões planejados até 2015, 46% são para petróleo e gás e 19%, ou R$ 172 bilhões, para os transportes.



Veículo: Valor Econômico


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