Trabalhadores procuram cada vez mais a Justiça

Leia em 4min 40s

O crescimento da formalização do trabalho. Fácil acesso à Justiça Trabalhista. Tributos altos para contratação de um empregado, levando a busca de outras formas de contrato fora da Consolidação das Leis do Trabalho CLT. Perda de força dos sindicatos para negociações com os patrões. Estes foram os ingredientes principais para o aumento de 25% no número de processos na Justiça do Trabalho de 2004 a 2011, segundo dados do Tribunal Superior do Trabalho (TST).

Somado a isso tudo ainda há uma enorme lentidão da Justiça, que prolonga essas brigas por anos. Mesmo assim, os números de conciliações são consideráveis, girando em torno de 45% de tudo que chega à Justiça Trabalhista. O que não refresca nem equilibra a balança.

O Tribunal Regional da 2ª Região (TRT-2) - que compreende o Estado de São Paulo, considerado o maior tribunal do País em números de processos, com cerca de 35% de demanda brasileira -, contabiliza mais de 482 mil de processos em execução (dados de 2012), cerca de 200 mil processos a mais do que Tribunal do Rio de Janeiro, outro gigante do ranking dos TRTs em número de processo, segundo dados TST.

Nem a criação de novas varas do trabalho tem desafogado o Tribunal de São Paulo, que espelha a situação dos outros Tribunais do Trabalho do País. O déficit de juízes para atuar nas Varas também não é preenchido e há vagas que estão em aberto há anos, diz o juiz da 43ª Vara do Trabalho do Fórum Ruy Barbosa, Jefferson Genta. Segundo ele, a questão dificulta os trabalhos e minimiza a rapidez na resolução de conflitos. "No concurso aberto, ainda em andamento, 174 vagas foram ofertadas e apenas 17 inscritos passaram para a prova oral", diz Genta.

A falta de modernização da legislação trabalhista também ajuda a piorar o quadro, por isso muitos advogados afirmam que são necessárias mudanças na CLT que abranjam melhor as relações de trabalhos atuais, reduzindo os conflitos no Judiciário.

Segundo o sócio do contencioso trabalhista do Demarest Advogados, Paulo Valed Perry Filho, a legislação trabalhista, com 70 anos, está atrasada em relação às modernas relações de trabalho, embora tenham ocorrido algumas atualizações pontuais. "Um dos principais aspectos que precisa ser mais bem analisado, e que seria de extrema importância para a diminuição da divergência entre capital e trabalho é a 'flexibilização' das leis trabalhistas", defende Perry Filho.

O juiz e vice-presidente da Associação dos Magistrados do Trabalho da 2ª Região (Amatra-2), Maurício Assali, não concorda. "É falacioso o argumento de que a 'rigidez' da legislação trabalhista tem dificultado a redução do contencioso no setor", diz. Segundo ele, o problema não é a 'rigidez' da legislação, mas sim o descumprimento deliberado de parâmetros mínimos da contratualidade. "As partes sabem de antemão as regras previstas em lei. As empresas ao efetuar a colocação de vagas e postos de trabalho no mercado já devem calcular os efetivos encargos e custos de mão de obra que se incorporam e agregam no valor do custo final de venda dos seus produtos e serviços, assim como os demais insumos de produção", explica.

Mesmo assim, diz o juiz, não se observa minimamente estes direitos "com intuito meramente financeiro, ou seja, descumpre-se a norma para aumentar a margem de lucratividade da atividade econômica". Segundo Assali, também se deve observar que o acesso do cidadão ao Poder Judiciário aumentou, o que fez com que ocorresse um efetivo acréscimo de demandas trabalhistas.

O juiz é defensor de que uma revitalização da estrutura sindical que, segundo ele, poderia ser um facilitador para solução de conflitos entre o capital e o trabalho, evitando demandas judiciais que poderiam ser resolvidas na negociação coletiva e na forte e efetiva atuação dos entes sindicais na origem dos problemas.

Para Perry Filho, do Demarest Advogados, a ideia de dar ampla validade às negociações coletivas e prevalecer os acordos e as convenções coletivas sobre as previsões legais, com vias a adequar as garantias e direitos de acordo com as peculiaridades de cada ramo empresarial, continua sendo rechaçada por grande parte dos envolvidos", diz Perry Filho. "Sem que os acordos e as convenções coletivas tenham verdadeira eficácia e validade, multiplicam-se as possibilidades de litígio, pois é comum que, após negociados diversos direitos e garantias, o Judiciário Trabalhista anule totalmente ou parte daquilo que ficou negociado entre os Sindicatos Patronais e Profissionais".

Com relação à alta carga tributária, as empresas, muitas vezes, acabam por escolher o pagamento dos tributos em detrimento à liquidação das dívidas trabalhistas. "É possível identificar, ainda, que salvo específicas e poucas leis, todas as empresas, sejam elas micro, medias ou grandes multinacionais, todas são obrigadas a aplicar praticamente as mesmas condições e direitos aos seus empregados. Esta situação fomenta os litígios, pois várias relações jurídicas com realidades diferentes são reguladas da mesma forma", diz Perry Filho.

Segundo o juiz Jefferson Genta, a maioria dos litígios é de trabalhadores de pequenas e micro empresas.

"Fica claro ao analisarmos os casos, que muitos empresários mal conseguem manter a documentação da empresa em dia, que dirá o direito do trabalhadores. Quando o dono do pequeno negócio não consegue administrar as contas da empresa os primeiros encargos que ele deixa de pagar são os relacionados ao trabalhador", explica o juiz.

Nesse sentido o vice-presidente da Amatra destaca que deveria haver uma diminuição da carga tributária sobre a folha de pagamento para desonerar o pequeno e médio empresário, que, a partir dessa desoneração, certamente cumpriria com maior eficiência as normas de caráter trabalhista.



Veículo: DCI


Veja também

Pontofrio.com desenvolve nova plataforma móvel

O Pontrofrio.com anunciou na última semana o desenvolvimento de uma plataforma digital móvel da sua loja v...

Veja mais
Mercado de shoppings no interior atrai redes

A migração dos shopping centers para regiões interioranas e a diversificação do model...

Veja mais
Investimento em armazenagem pode ser alternativa para redução de custos

Na tentativa de reduzir problemas criados pelos gargalos da infraestrutura logística no Brasil, empresas tê...

Veja mais
Cesta básica registra alta de 0,09% na capital paulista

O preço da cesta básica na cidade  de São Paulo registrou alta de 0,09% na última seman...

Veja mais
Casas Bahia é maior anunciante do país

Empresa, que investiu R$ 1,32 bi em publicidade em 2012, é líder de ranking há 11 anos; Unilever es...

Veja mais
Expansão farmacêutica

A rede de farmácias Pague Menos vai inaugurar em outubro seu segundo centro de distribuição no pa&i...

Veja mais
Farinha ficou 140% mais cara

Levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese/Pa), nos &uacut...

Veja mais
Lista de produtos essenciais ficou na promessa

A lista de quais produtos serão definidos como essenciais – ou seja, que deverão ser trocados pelo v...

Veja mais
Café é o maior gerador de empregos no campo

Na sexta-feira, celebrou-se o Dia Nacional do Café. Produto que foi o pilar estruturador da industrializaç...

Veja mais