O tomate variou 110% por causa da sazonalidade da produção
A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), divulgada ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), encerrou 2008 em 6,07%. O superaquecimento da economia mundial e a disparada internacional das commodities (produtos básicos com cotação em bolsa) ajudaram a puxar a alta do indicador. A expectativa dos analistas é de que, com a crise financeira, a demanda caia de forma generalizada, pressionando bem menos o bolso do consumidor brasileiro nos próximos meses.
No ano passado, os protagonistas da elevação de preços foram os alimentos. Com maior peso no IPC-S, eles acumularam alta de 10,15%. O tomate, apontado como o grande vilão, variou 110,47% por causa da sazonalidade da produção, clima e variações no custo do frete. Já o pão francês subiu 21,52% e a comida de restaurante, de acordo com o levantamento, ficou 10,27% mais cara. Entre os produtos que ajudaram a conter uma elevação ainda maior do IPC-S estão o feijão carioquinha (-26,69%) e a batata-inglesa (-17,80%).
Outras classes de produtos ou serviços igualmente influenciados pelo bom momento vivido pela economia global no ano passado também registraram elevações. Foi o caso, por exemplo, do grupo “saúde e cuidados pessoais”, que subiu em 2008 6,27%. O terceiro colocado no ranking dos que mais contribuíram para o salto do IPC-S no ano foi o item “educação, leitura e recreação”, com alta acumulada de 5,77%. O aluguel residencial subiu em 2008 6,04%.
O cenário recente, no entanto, não indica que a inflação calculada pela FGV fugirá ao controle. A esperada diminuição da atividade econômica deverá ter reflexos quase que instantâneos no orçamento doméstico, contribuindo para quedas de preços significativas. “Tivemos no fim do ano passado desacelerações importantes, há uma dinâmica de preços diferente. A perspectiva é bem favorável e tudo indica que a inflação não será a maior preocupação de 2009”, diz Paulo Picchetti, coordenador do IPC-S. Em 2007, o indicador subiu 4,60%.
Na comparação entre a quadrissemana terminada em 31 de dezembro e a terminada em 22 de dezembro é possível verificar um discreto recuo no IPC-S, de 0,61% para 0,52%, o que justifica a previsão de Picchetti. Quase todos os itens apresentaram alguma perda de fôlego, apontando para uma tendência de inflação menor neste primeiro trimestre de 2009 — considerado o “termômetro” da crise global. Só os alimentos recuaram de 0,88% para 0,60%. “Há desaceleração em carnes e quedas mais acentuadas nos casos de arroz e feijão. Passado janeiro, será possível ver outros movimentos do tipo”, completa o especialista da FGV.
Neste início de ano, despesas com educação, transportes e habitação ainda vão subir um pouco, mas as projeções dos economistas indicam que, ao longo do semestre, esses gastos tendem a equilibrar-se. O IPC-S é considerado a inflação mais sensível ao consumidor. Para medi-la, a FGV faz levantamentos em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Recife.
Veículo: Correio Braziliense