Um mês após fracassar a sua primeira tentativa de migrar para o Novo Mercado, a Coteminas propôs mudanças no seu estatuto para assegurar os mesmos direitos econômicos entre todos os seus acionistas. Josué Gomes da Silva, presidente e controlador da fabricante têxtil, diz que se trata de um passo na direção de levar a companhia ao mais alto nível de governança da bolsa, um plano do qual o empresário não desistiu.
Em assembleia marcada para o dia 14 de junho, convocada semana passada, a Coteminas vai deliberar sobre a concessão do direito de "tag along" de 100% aos detentores de ações preferenciais (sem direito a voto). Na prática, no caso de uma venda de controle, todos os acionistas terão direito a uma oferta ao mesmo preço e condições oferecidas ao acionista alienante, uma das exigências do Novo Mercado.
Para ganhar o selo de governança, ficará pendente a conversão de todas ações preferenciais em ordinárias (com direito a voto). A mais recente tentativa fracassou. Em assembleia no dia 30 de abril, a proposta de troca na proporção de uma ordinária para cada preferencial foi rejeitada com 43% de votos contrários e 12,24% favoráveis. Houve, na ocasião, a presença de representantes de 55,24% das preferenciais.
Alguns fundos detentores de ações preferenciais queriam direito de recesso. Ou seja, estes sócios preferiam entregar suas ações em troca de dinheiro, com base no valor patrimonial dos papéis, o que significaria desembolso de caixa da Coteminas.
Pela proposta da empresa, não haveria recesso. Como forma de compensação, a Coteminas asseguraria aos atuais preferencialistas prioridade no reembolso de capital em caso de liquidação da companhia, após a conversão.
A ideia não foi um consenso, como se viu. Considerando as preferenciais, o valor patrimonial da Coteminas é de R$ 1,02 bilhão, mais que o dobro do seu valor de mercado, de R$ 416 milhões.
Silva afirma que no futuro - "espero que próximo", diz - tentará novamente migrar para o Novo Mercado. Ele não detalha quais condições serão oferecidas aos atuais preferencialistas. "Quando os valores de mercado e patrimonial ficarem mais próximos, será mais fácil fazer a conversão", diz.
Diferentemente de sua controlada Springs, que está listada no Novo Mercado, a Coteminas pertence ao segmento tradicional da bolsa. Com as mudanças propostas agora e a adoção da câmara de arbitragem do mercado, a Coteminas poderia tentar ir para o Nível 2 - o segundo em grau de governança - mas este não é o objetivo de Silva. "Por que vamos nos contentar com o Nível 2 se podemos conseguir o Novo Mercado?", disse o empresário.
Na próxima assembleia, a companhia também quer aprovar a inclusão, no seu estatuto, de disposições acerca de ofertas públicas para cancelamento de registro de companhia aberta. Além disso, a Coteminas pretende prever a obrigatoriedade do conselho de administração ser composto por, pelo menos, 20% de membros independentes.
As alterações podem melhorar a visibilidade da empresa no mercado. Em termos de resultado, no entanto, a Coteminas ainda deixa a desejar. Com desempenho operacional instável e despesa financeira líquida elevada, a empresa não encerra um trimestre no azul desde o início de 2011.
A venda de ativos deficitários no exterior trouxe alívio ao balanço no primeiro trimestre deste ano. O prejuízo diminuiu 60,5%, para R$ 14,8 milhões, em relação a um ano antes.
Ao fim de março, a dívida bruta da Coteminas era de R$ 816 milhões. Mais da metade desse montante vencia no curto prazo e a companhia tinha R$ 143 milhões no caixa. O patrimônio líquido era de R$ 1,7 bilhão.
Veículo: Valor Econômico