Brasil importa feijão

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O governo brasileiro decidiu aumentar a importação de feijão, diante da disparada dos preços do produto, que já está ocupando o lugar do tomate como vilão da inflação. Em várias partes do país, o quilo do feijão está sendo vendido a R$ 8, levando muitas famílias de baixa renda a retirá-lo do cardápio por total incapacidade de comprá-lo. Na média, a leguminosa subiu 30% desde o início do ano por causa de questões climáticas e pode encarecer pelo menos mais 30% nas próximas semanas devido à praga da mosca branca.

No entender dos especialistas, o quadro da produção de feijão no país é dramático. Eles explicaram que o segundo ciclo do feijão, que começa a ser colhido no fim deste mês, não deverá compensar a perda da primeira safra, que impactou o orçamento dos consumidores. Alertaram ainda que a terceira e última colheita deve cair bastante, já que o governo de Minas Gerais, segundo produtor do país, proibiu a plantação de feijão entre 15 de setembro e 25 de outubro no Noroeste do estado.

A determinação é conhecida como vazio sanitário e visa a exterminar um vírus transmitido pela mosca branca, que não causa problema ao ser humano, mas prejudica bastante a lavoura. O ciclo do inseto é de 20 dias. Daí a interrupção do plantio por 40 dias. Além de Minas, Goiás e Distrito Federal expediram a mesma ordem. “A intenção é tentar quebrar o ciclo da mosca branca. Há uma tendência do encarecimento do preço do feijão, pois a oferta será menor”, admitiu Pierre Vilela, coordenador da assessoria técnica da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg).

Diante dessa realidade, o ministro da Agricultura, Antônio Andrade, avisou que o governo tomará todas as medidas necessárias para segurar os preço do produto, que, segundo ele, não pode faltar no prato dos brasileiros. “Se necessário, vamos importar feijão de onde tiver oferta para podermos equilibrar os preços. Estamos estudando, ouvindo os nossos produtores e buscando saber sobre os mercados importadores”, afirmou o ministro. “Queremos dar tranquilidade aos consumidores de que teremos um produto de qualidade e preços acessíveis”, acrescentou.

O Brasil vem ampliando sistematicamente a importação de feijão, mas, ainda assim, os preços estão em disparada. Nos últimos dois anos, as compras do produto no exterior mais que triplicaram, passando de US$ 18,8 milhões para US$ 62,7 milhões. Na avaliação de Pierre Vilela, não será fácil aumentar as importações. “A Argentina (principal fornecedor do país) está no inverno e não produz nesta época do ano. Devemos importar mais da China, mas (a produção asiática) não é suficiente para suprir a nossa demanda”, assinalou.

Susto geral


Os consumidores estão assustados com a carestia do feijão. Que o diga a artista plástica Sheila Maria Marzano. Ela ficou atônita ao pesquisar os preços do produto. “O valor, Deus do céu, disparou!”, reclamou. Para ela, se o governo fracassar na importação para garantir o abastecimento, as famílias terão de substituir o produto, pois não haverá orçamento que suporte a alta de preços por muito tempo. “Uma das alternativas é a lentilha”, indicou. Segundo o mecânico Sebastião Saraiva, o jeito é pesquisar entre os vários tipos da leguminosa e escolher a mais barata. O quilo do feijão-branco, por exemplo, usado em saladas, está custando cerca de R$ 4.

Os técnicos do governo chamaram a atenção para o fato de a produção de feijão ter subido no Nordeste ante queda nos dois principais centros — Paraná e Minas — e, mesmo assim, os preços terem disparado. Para especialistas, isso ocorreu em razão de o Nordeste produzir, majoritariamente, variedades que não são consumidas no cotidiano das famílias das regiões Sudeste e Sul, como o feijão andu e o de corda. “Achei o número do Nordeste mágico. Para se ter ideia, o Ceará produzirá, no segundo ciclo (colheita no fim desse mês), cerca de 145 mil toneladas. Minas, que é o segundo produtor, terá cerca de 150 mil toneladas”, assinalou Pierre, da Faemg. Na próxima semana, quando representantes de entidades de classe se reunirão com colegas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE ) para discutir a produção agrícola e outras pautas, ele pedirá esclarecimentos sobre o que considera um “mistério”. “Vou jogar isso na mesa”, avisou.

Se os consumidores não se cansam de reclamar dos preços do feijão, no governo o clima é de apreensão, pois os alimentos insistem em manter a inflação acumulada em 12 meses no teto da meta perseguida pelo Banco Central, de 6,50%. Ontem, ao anunciar o Plano Safra 2013/2014, de R$ 136 bilhões em financiamentos, a presidente Dilma Rousseff disse não ter dúvidas de que a agricultura terá um crescimento excepcional neste ano.



Veículo: Diário de Pernambuco


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