Queda de safra em Minas e no Paraná faz valor da saca chegar a R$ 240. Alta de 50% para produtor chega à mesa e quilo do carioquinha fica 31,6% mais caro em apenas 4 meses
A artista plástica Sheila Maria Marzano levou um susto ao pesquisar os preços do feijão: “O valor, Deus do céu, disparou”. As causas, novamente, se devem a condições climáticas: a seca e chuvas desreguladas levaram o primeiro ciclo da colheita, em março e abril, a despencar 30% em Minas, o segundo maior produtor nacional. No Paraná, primeiro colocado no ranking, também houve recuo na safra. Resultado: o produtor reajustou os preços. No estado, a saca de 60 quilos subiu 50% de dezembro de 2012 a maio de 2013, de R$ 160 para R$ 240. A diferença, claro, chegou ao consumidor, como mostra pesquisa do site Mercado Mineiro: o quilo da variedade carioquinha, o mais consumido em BH, subiu 31,6% apenas de fevereiro a maio.
O percentual está bem acima da inflação oficial do Brasil, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que fechou o acumulado dos últimos 12 meses, encerrados em abril, em 6,49%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para salgar ainda mais o prato, a tendência é de novas altas nos preços. Há duas explicações. O segundo ciclo do feijão, que começa a ser colhido no fim do mês, não deve compensar a perda da primeira colheita. Já a terceira e última colheita deve cair bastante: o governo de Minas Gerais proibiu a plantação de feijão, de 15 de setembro a 25 de outubro, no Noroeste do estado, região que responde por 70% da produção do terceiro ciclo.
A determinação é conhecida como vazio sanitário e visa a exterminar um vírus transmitido pela mosca-branca – a praga não causa problema ao ser humano, mas prejudica bastante a lavoura. O ciclo do inseto é de 20 dias. Daí a interrupção do plantio por 40 dias. O vazio sanitário, que é usual nas culturas do algodão e da soja, é o primeiro a ser aplicado, no estado, para o feijão. Além de Minas, Goiás e o Distrito Federal expediram a mesma ordem. “A intenção é tentar quebrar o ciclo da mosca-branca. Há uma tendência de encarecimento do preço do feijão, pois a oferta será menor”, prevê Pierre Vilela, coordenador da assessoria técnica da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg).
Alternativas A alternativa, segundo ele, é o Brasil importar o produto. Mas a tarefa não será fácil: “A Argentina (principal fornecedor do país) está quase no inverno e não produz nesta época do ano. Devemos importar da China, mas (a produção asiática) não é suficiente para suprir a nossa demanda”. Se o governo brasileiro fracassar na compra externa de feijão, Sheila Marzano, a artista plástica que se assustou com o preço do grão, sugere subistituir o alimento por lentilha: “Morei no Rio Grande do Sul e lá é muito comum o consumo de lentilhas”. Ela tem outras dicas: dar preferência a variedades de feijão cujos preços subiram menos.
O do carioquinha, segundo a pesquisa do Mercado Mineiro, liderou a alta entre fevereiro e maio: 31,6%. Em seguida, aparece a jalo, cujo quilo subiu 29,91% no mesmo intervalo, de R$ 6,32 para R$ 8,21. O do feijão preto avançou 9,72%, de R$ 4,22 para R$ 4,63. A última variedade pesquisada foi a do grão branco: alta de 8,12%, de R$ 3,57 para R$ 3,86. “O jeito é usar, então, o feijão branco. Dá para fazer uma excelente salada”, recomenda a artista plástica. Se o preço for viável, outra alternativa é substituir o feijão por lentilhas, como opina Márcio Paranhos, morador do Bairro Serra, na Região Centro-Sul da capital.
O preço médio do feijão disparou também no entreposto da Ceasa Minas em Contagem, o maior do estado. De abril para maio, o fardo de 30 quilos do grão subiu 10%, fechando em R$ 140. “A oferta mineira diminuiu aqui. Está entrando feijão de São Paulo e do Paraná. Se não fosse isso, provavelmente, o preço seria maior”, avalia Wilson Guide, chefe do Departamento Técnico da Ceasa Minas. Já no acumulado do primeiro quadrimestre do ano, o preço médio da saca de 60 quilos do feijão chegou a R$ 198,37. “Houve um aumento de 29,8% em relação ao preço médio dos quatro primeiros meses de 2012”, calculou Márcia Aparecida de Paiva Silva, assessora técnica da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais.
MISTÉRIO Ao contrário de Minas e do Paraná, a produção do primeiro ciclo do feijão subiu no Nordeste. E em volume expressivo, de 130 mil toneladas para 484 mil toneladas. O curioso é que esse “extra” não freou a disparada do preço do grão no mercado doméstico. Para especialistas, isso não ocorreu em razão de o Nordeste produzir, em grande maioria, variedades que não são consumidas no cotidiano das famílias das regiões Sudeste e Sul, como o feijão-andu e o de corda.
“Achei o número do Nordeste mágico. Para se ter ideia, o Ceará irá produzir, no segundo ciclo (colheita no fim desse mês), cerca de 145 mil toneladas. Minas, que é o segundo produtor, terá cerca de 150 mil toneladas. Uma das explicações é que o Nordeste está produzindo feijões que não são consumidos com frequência fora de lá”, reforçou o coordenador da Faemg.
Veículo: Estado de Minas