China vai importar mais alimentos

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Apesar de sua política de segurança alimentar, a China vai precisar aumentar as importações de produtos agrícolas nos próximos dez anos, num cenário que terá influência nos mercados internacionais. A projeção é da Agência das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) e da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e consta de relatório sobre as perspectivas agrícolas para 2013-2022.

Com um quinto da população mundial, maior renda e rápida expansão do setor agroalimentar, a China já é um dos maiores importadores mundiais de produtos agrícolas, mas também é grande exportadora de várias commodities.

Diante da pouca disponibilidade de terras agricultáveis e água, os chineses tornaram prioridade política a segurança alimentar e a autossuficiência em produtos como arroz e trigo, e o resultado tem sido positivo. A produção agrícola cresceu 4,5 vezes de 1978 a 2011. A maior disponibilidade de alimentos e a maior renda melhoraram a segurança alimentar chinesa. O número de pessoas mal nutridas caiu para 100 milhões desde 1990, apesar de um aumento de 200 milhões da população.

Mas a inflação provocada pelos preços de alimentos aumentou nos últimos anos no país. E a produção deve desacelerar na próxima década diante de maior demanda e problemas na produção interna, de acordo com o relatório da FAO e da OCDE.

As projeções indicam que o crescimento do consumo deverá exceder o da produção até 2022 na China. Entre 2001 e 2012, o comércio agrícola chinês (importações e exportações) pulou de US$ 27,9 bilhões para US$ 155,7 bilhões. A dependência de importações dobrou de 6,2% para 12,9%. O déficit na balança comercial de produtos agrícolas e alimentos chegou a US$ 31 bilhões em 2012 contra US$ 18,5 bilhões do ano anterior.

De um lado, o governo adotou metas específicas para a produção interna de trigo, arroz, grãos forrageiros, óleo de soja e tubérculos. A FAO e a OCDE indicam que essas metas podem ser alcançadas e mesmo superadas na próxima década. Ainda assim, a China terá de fazer uma abertura mesmo modesta de mercado e importações adicionais.

As importações de oleaginosas podem aumentar 40% entre 2013 e 2022, alcançando 83 milhões de toneladas, ou 59% do comércio mundial. As importações de açúcar deverão ficar acima das cotas tarifárias (com alíquota menor) estabelecidas pelo governo para a próxima década. As compras de trigo e de milho também crescerão.

Embora esteja perto da autossuficiência na área de carnes, a expectativa é de que as importações chinesas cresçam 3% ao ano e atinjam 1,7 milhão de toneladas até 2022, impulsionadas pelo aumento da população e da demanda. As importações de carne bovina devem crescer 7% ao ano. As compras externas de carne suína, que alcançaram 600 mil toneladas em 2012, tambem devem aumentar. Num movimento que indica a preocupação da China com o abastecimento, na semana passada, a chinesa Shuanghui ofereceu US$ 7 bilhões (incluindo dívidas) pela americana Smithfield, maior produtora mundial de carne suína.

A importação de lácteos pela China já vem aumentando, no rastro da crise de contaminação de leite com melamina e de uma reestruturação do setor no país. E deve continuar a crescer. A projeção é que o consumo avance 38% nos próximos dez anos. As importações podem crescer 20%.

Já a produção de algodão na China deve declinar 21%, e também as importações, na medida em que o uso da matéria-prima vai diminuir pela indústria local em função da maior concorrência com a Índia e países com mão de obra mais barata. Mas a China deve continuar a ser uma grande exportadora de pescado. A produção no país vai aumentar e poderá representar 63% da aqüicultura global em 2022.

O relatório mostra que a China segue aumentando os subsídios para a produção. A estimativa de Apoio ao Produtor (PSE, ou Producer Support Estimate), um indicador do valor monetário bruto anual transferido por consumidores e contribuintes como apoio aos agricultores, chega a 15% da renda total dos produtores, próxima do nível visto nos países desenvolvidos. Dos cerca de US$ 140 bilhões de subsídios, pelo menos US$ 100 bilhões foram fornecidos através de programas 'caixa verde' (o que inclui programas ambientais).



Veículo: Valor Econômico


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