A Unilever fez a mesma quantidade de desodorante Dove caber em uma embalagem com a metade do tamanho. As versões compactas já foram lançadas no mercado europeu e devem chegar ao Brasil em breve, disse Pier Luigi Sigismondi, diretor global responsável pela cadeia de suprimentos da companhia, em visita ao Brasil. Mudanças como essa e outras menos perceptíveis aos consumidores, desde negociações para compra de matéria-prima até melhorias na logística e na produção, ajudam a multinacional anglo-holandesa a economizar cerca de €1 bilhão no mundo por ano. De 8% a 10% desse montante é referente ao corte de gastos na operação brasileira, a segunda maior para o grupo, que opera em 90 países.
A fabricante de produtos de higiene pessoal, limpeza e alimentos, dona de marcas como Seda, Omo e Kibon, tem a missão de dobrar de tamanho, de 2010 a 2020, ao mesmo tempo que diminui pela metade o impacto ambiental. As metas incluem reduzir a emissão de carbono e o consumo de água, mas também podem ser traduzidas em ganho de eficiência. "A cadeia de suprimentos na Unilever é a nossa espinha dorsal para criar um negócio sustentável e lucrativo", afirma Sigismondi.
A produção da embalagem menor de Dove economiza energia, gasta 25% menos alumínio e ocupa menos espaço no transporte. Outras concorrentes buscam ganhar eficiência de maneira semelhante, como a Kimberly-Clark, com as embalagens compactas de papel higiênico Neve, e a Natura, com a nova linha Sou, cujas embalagens usam 70% menos plástico.
A Unilever quer reduzir o número de caminhões usados globalmente no transporte de mercadorias em 20%, diz o executivo. A empresa também usa transportes alternativos como cabotagem e ferrovias. Outra ação é automatizar as operações ao longo da linha de todas as categorias de produtos. "Quando o custo da mão de obra ultrapassa o custo de tecnologia, a tecnologia toma o lugar das pessoas", afirma Sigismondi, ao comentar que a produtividade não acompanha o aumento salarial no Brasil.
A companhia busca custos mais competitivos desde o início da cadeia. De todas as matérias-primas compradas pela Unilever, 95% são negociadas globalmente. "Nosso modelo de organização nos possibilita aproveitar nossa escala global, de um lado, e ao mesmo tempo ter uma presença profunda nos mercados em que estamos, então nosso índice de inovação e a velocidade com que lançamos novos produtos no mercado estão constantemente sendo desafiados por nossas equipes".
A filial brasileira da Unilever cresceu 14% no ano passado e mantém ritmo semelhante em 2013. "Estamos crescendo em todas as regiões, categorias e canais nos quais operamos no Brasil", diz Sigismondi. A receita da multinacional no Brasil foi de R$ 13,6 bilhões em 2012. No mundo, obteve € 51 bilhões.
Para atender a demanda nacional, a companhia anunciou em maio sua décima fábrica no país, em Aguaí (SP), com inauguração prevista para 2015. O executivo diz que ainda não foi definido o mix de produtos a ser fabricado no local - só que serão produtos de higiene pessoal e limpeza.
Sigismondi afirma que a operação brasileira é autossuficiente. A importação não chega a 4% do volume de produtos vendidos. A filial importa basicamente os itens em aerossol, produzidos na Argentina, como os desodorantes Dove, Rexona e Axe, e outros produtos de pequeno valor. Na concorrente Procter & Gamble, a importação representa 20% dos negócios.
O Brasil também exporta pouco, o que Sigismondi considera uma oportunidade a ser explorada. Apenas cerca de 5% da produção vai para o exterior, principalmente para países da América Latina. Esse índice já foi de 10%, mas diminuiu com as barreiras impostas pela Argentina, de acordo com José Negrete, vice-presidente da cadeia de suprimentos da Unilever Brasil.
O presidente da Unilever Brasil, Fernando Fernandez, disse há duas semanas que trabalha com capacidade máxima de produção em categorias como sorvetes, produtos para o cabelos e lava-roupas. A empresa investe R$ 500 milhões ao ano em expansão da capacidade e em tecnologia. Segundo Sigismondi, "quando investimos numa fábrica, é para [atender à demanda de] no mínimo 20 a 30 anos. Mas você não vai esperar dez anos para ver mais fábricas no Brasil. Será muito antes, com certeza".
Veículo: Valor Econômico