O varejo que sustentou o crescimento da economia do País nos últimos anos começa a perder o embalo, como mostram indicadores que espelham o desempenho do setor (em volume de vendas) ao longo do primeiro semestre de 2013. As apostas recaem sobre os seis meses restantes do ano, período que normalmente concentra os melhores resultados. Um fator novo, porém, tornou mais nebulosas as perspectivas para os próximos meses. De acordo com o economista Emilio Alfieri, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), "as manifestações de rua no País podem ter impacto negativo na confiança do consumidor, que vinha estável no primeiro semestre, mas começa a dar sinais de piora em junho".
O economista diz que, de maneira pontual, alguns lojistas estão informando reduções de até 30% nas vendas em dias de mobilizações dos estudantes em São Paulo. Mas os impactos no longo prazo ainda são difíceis de dimensionar.
Entre janeiro e abril, dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), mostram que o volume de vendas no varejo – excluindo aquelas de veículos e de materiais de construção – avançaram 3% na comparação com igual período de 2012.
Apesar da alta, o ritmo desse crescimento abrandou. No primeiro quadrimestre de 2012, as vendas haviam crescido 9,2% diante de igual período de 2011.
SCPC – Os números da ACSP, que usa a base de dados do Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC), mostram igual desaceleração para a cidade de São Paulo, o mais importante centro de consumo do País.
Entre janeiro e maio, o volume de vendas na Capital paulista registrou alta de 1% na comparação com os cinco primeiros meses de 2012. Já na sobreposição janeiro a maio de 2012 sobre 2011, fora de 3,1%. "No primeiro semestre tivemos alta da inflação de alimentos, que drena recursos para o consumo de outros bens. Tivemos também baixo crescimento da massa salarial e a desaceleração do crédito", afirma Emilio Alfieri.
A massa salarial real, em maio, pelos dados do IBGE, avançou 1,5% na comparação com igual mês do ano passado. Ela havia avançado 7,5% em maio de 2012, ante 2011. Ainda tendo maio como base de comparação, o crédito real para pessoa física – excluindo o imobiliário – avançou 2,3% neste mês de 2013, comparado com 2012. Já em maio de 2012, comparado com igual mês de 2011, o avanço havia sido de 10,1%.
Estradas – "Esses fatores tiraram o varejo da liderança da economia. Setorialmente, apenas as vendas de veículos e imóveis se destacam, por terem estímulos do governo", comenta o economista da ACSP. "Com os incentivos do governo federal para melhorar os portos, aeroportos e estradas, a indústria de bens de capital e setores ligados à infraestrutura é que devem puxar o PIB (Produto Interno Bruto) neste ano", analisa Alfieri.
Segundo o economista, as expectativas para o varejo no segundo semestre são melhores. Para ele, a entrada do inverno já começa a refletir positivamente no varejo tradicional, em especial de roupas e calçados. Os dados da ACSP mostram que na primeira quinzena de junho o volume de vendas na Capital paulista avançou 3,8% na comparação com igual período do ano passado. Embora o resultado configure alta menor do que a vista nos primeiros quinze dias de junho de 2012, ante 2011, quando o avanço foi de 4,5%, o resultado recente aponta para uma retomada do desempenho do varejo, que havia crescido apenas 1% entre janeiro e maio.
Veículo: Diário do Comércio - SP