Crise afeta vendas de orgânicos na Europa

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A crise reduziu o ritmo de crescimento do consumo de produtos orgânicos na Europa para uma taxa anual de 3% a 4%, ante 8% a 10% nos anos anteriores ao aprofundamento da turbulência econômica. Mas não se pode dizer que o segmento vá mal. Em países da Escandinávia, na Holanda e na Alemanha, a população ainda prefere alimentos que consideram mais saudáveis e naturais. E gasta com eles.

Segundo o mais recente levantamento do instituto de pesquisa e consultoria Organic Monitor, os suíços gastaram, em média, € 177 (R$ 533) per capita na compra de orgânicos em 2011, quando a crise já mostrava sua garras. Os dinamarqueses vieram em seguida, com € 162 (R$ 460) per capita. Os austríacos dispenderam € 127 (R$ 361) per capita, os suecos € 94 (R$ 267) e os alemães, € 81 (R$ 230), com tendência altista. Em países com mais problemas, como Espanha, Portugal, Grécia e Itália, os orgânicos foram mais prejudicados e o crescimento do consumo não passou de 3%.

"De modo geral, os orgânicos são cortados mais rapidamente em tempos de crise, como ocorre com bens de luxo e automóveis", afirma Amarjit Sahota, diretor do instituto, com sede em Londres. "Mesmo assim, muitos continuaram se abastecendo desses produtos. A Europa responde hoje por 46% das vendas globais de orgânicos", diz.

Além da deterioração econômica em alguns países, afirma, a continuidade do crescimento do segmento na Europa se deve ao fato de grandes redes varejistas do continente já terem desenvolvido linhas próprias de orgânicos, o que amplia a oferta e diminui o preço na gôndola. "Em muitos casos, os orgânicos são mais baratos que os equivalentes convencionais não só porque ganharam escala, mas porque não tem 'branding'", diz Sahota, referindo-se ao sobrepreço das marcas famosas.

De acordo com Sahota, os países mais ricos da Europa também mantiveram vendas significativas em relação ao consumo total de alimentos. Na Dinamarca, 7% de todos os alimentos comercializados (varejo, feiras, restaurantes, etc) foram orgânicos. Na Suécia, 5%. E na Suíça, 6%. "Somente na Suécia, 30% de todo o leite consumido e 25% dos ovos são orgânicos", afirma.

Os Estados Unidos, os maiores consumidores do mundo também nesse mercado, compensaram a desaceleração europeia com um crescimento anual de 10%. Com a outra metade do mercado global, o país contribuiu para a movimentação de US$ 63,2 bilhões registrada em 2011 - ainda não foram divulgados dados mundiais referentes a 2012.

Apesar do cenário de crescimento modesto, a desaceleração do consumo europeu deverá afetar o Brasil, onde o segmento até recentemente era praticamente voltado às exportações. O Projeto Organics Brazil, que incentiva a comercialização no exterior de produtos orgânicos brasileiros, fechou o primeiro semestre de 2013 com US$ 37 milhões embarcados por 76 empresas associadas. Pelo andar da carruagem, dificilmente atingirá os US$ 129,5 milhões de 2012.

Na Ásia, a barreira de crescimento continua sendo o preço. Maiores consumidores, Japão, Malásia, Coreia do Sul e Hong Kong dependem da importação, uma vez que não têm tradição agrícola. Lá, como no Brasil, os alimentos orgânicos podem ser até 200% mais caros que os convencionais. "É um problema, eles estão fadados a importar. Nos EUA, orgânicos custam só 20% mais caro".



Veículo: Valor Econômico








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