Comércio de rua sofre

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Regiões nobres da capital registram menor desempenho na abertura de lojas nos últimos anos. Obras, alta nos aluguéis e a concorrência com os shopping centers são alguns dos problemas

Uma crise sem precedentes ronda o comércio de rua em pontos tradicionais do varejo em Belo Horizonte, como a Savassi e a Região Central da cidade, atingindo principalmente os pequenos negócios, que têm o seu desempenho puxado para o fundo por um coquetel de fatores. O aumento da concorrência com os shoppings centers e a descentralização do comércio na direção dos bairros foram o chute inicial nesse problema, agravado pelos altíssimos preços dos aluguéis, obras de revitalização e do BRT e mudanças nos hábitos dos consumidores, aliadas à saída das secretarias de estado em direção à Cidade Administrativa.

Um levantamento realizado pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BH) a pedido do Estado de Minas mostra que entre 2007 e 2012, o crescimento no número de lojas abertas na cidade se deu de forma mais intensa em bairros mais distantes do Centro do que nas áreas tradicionais. Enquanto na Savassi o avanço foi de 22%, em Lourdes foi de 25% e no Centro, de 35%; em Venda Nova saltou 56,6%, no Barreiro, 40,3%, e no Alípio de Melo, 55,9%. “O varejo está se expandindo para a periferia. São esses moradores que têm mais sobras no orçamento para gastar porque seu custo de moradia é baixo, enquanto nas áreas centrais chega a ser proibitivo. Esse consumidor quer concentrar as compras perto do lugar onde mora para gastar menos tempo e dinheiro com mobilidade”, explica Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC).

Ao perceber essa tendência na mudança no hábito de compras, os shoppings foram rápidos e dirigiram seus investimentos para regiões periféricas. De acordo com Luiz Fernando Veiga, presidente da Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce), entre 2007 e 2012, foram inaugurados oito centros de compras em Minas Gerais, cinco deles em Belo Horizonte. Entre este ano e o próximo serão abertos mais oito no estado. Os investimentos no segmento estão estimados entre R$ 1,6 bilhão e R$ 2 bilhões . E o número de novas lojas ficará entre 1,6 mil e 2 mil. “Hoje, a participação desse setor nas vendas do varejo brasileiro é de 19%, mas ainda há muito espaço para crescer”, afirma o executivo. De acordo com ele, nos Estados Unidos, a fatia é de 60%; no Canadá, 50%, e no Japão, 40%. “O shopping deixou de ser a catedral do consumo para se tornar um espaço de convivência. É como a praça de antigamente, só que com mais requinte”, acredita Veiga.

BATALHA DURA Nessa guerra pelo consumidor, as empresas que não têm estrutura ou caixa para se defender e garantir mercado patinam. Um giro pela Savassi dá ideia da dimensão do problema. Somente nas ruas do entorno da Praça Diogo de Vasconcelos, há mais de 64 lojas que foram fechadas e estão disponíveis para alugar. Sem contar os pontos que estão sendo passados para frente. Isso quer dizer que desde que a revitalização foi concluída, em maio do ano passado, a atividade econômica da região, apesar da abertura de alguns estabelecimentos, não se recuperou. De acordo com Maria Auxiliadora Teixeira de Souza, presidente da Associação de Lojistas da Savassi (Alsa), durante o ano e meio de duração da obra, cerca de 60 lojas tinham sido fechadas no local.

Na esquina da Rua Tupinambás com a Avenida Paraná, a Allô Modas, que funcionou por 40 anos no Centro da cidade, fechou as portas em janeiro. O ex-proprietário Hanny Mustafá conta que vários fatores contribuíram para que a empresa encerrasse as atividades: a obra na Avenida Paraná, a desaceleração da economia e o aumento do aluguel, que saltou de R$ 15 mil para R$ 35 mil. Além disso, o proprietário do imóvel pediu R$ 500 mil a título de luvas. “Resolvemos fechar a loja. Estou cheio de dívidas. Acho que a situação do comércio de rua tende a piorar. Os consumidores já não vão à região para comprar. Por questões de conforto e segurança, eles preferem comprar nos shoppings ou perto de casa”, explica.

Salvador Ohana, proprietário da Klus, especializada em moda masculina e fundada na esquina da Rua Aimorés coma Rio Grande do Norte há 37 anos, diz que antes da invasão dos shoppings centers o comércio de rua era muito melhor. “Tive de abrir lojas em shoppings para não perder espaço no mercado. Diante dessa concorrência, as lojas que permanecem nas ruas precisam oferecer atendimento muito mais qualificado, estacionamento, manobrista”, diz. Para ele, estabelecimentos de conveniência, como padarias, lanchonetes e farmácias, vão continuar nas ruas, mas o comércio de modo geral tende a migrar para os shoppings. Ainda assim, não passa pela cabeça do empresário fechar as atividades em sua única loja com portas voltadas para a rua. “Ela é uma referência da rede, que também está presente no Pátio Savassi, no Boulervard Shopping e no Diamond Mall. Nós é que fizemos aquele ponto. Quando você fica mais de 30 anos num lugar, você cria raízes”, explica.




Veículo: Estado de Minas


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