Encomendas para indústria de calçados recuam

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O clima negativo que se abateu sobre a economia em junho, com inflação alta e aumento do pessimismo sobre o crescimento do PIB, também afetou a indústria calçadista. O setor ainda sofreu com a onda de manifestações por todo o país, que prejudicaram as operações e as encomendas do varejo.

Junho é tradicionalmente um mês de "entressafra" antes do lançamento das coleções de primavera e verão, diz o diretor do grupo Priority, de Ivoti (RS), Eduardo Schefer. Mas este ano a situação foi mais complicada: o faturamento empatou com o de junho de 2012, ante uma alta projetada de 15%.

A fabricante dos calçados West Coast e Cravo & Canela espera, agora, pelo resultado da Francal, uma das principais feiras de calçados do país que ocorre esta semana em São Paulo, para ter uma ideia mais precisa do restante de 2013. Mesmo assim, trabalha com uma projeção mais conservadora do que a feita no início do ano.

De janeiro a maio o Priority faturou 13% mais e projetava alta de 18% para o acumulado de 2013. Mas com o fraco desempenho de junho, o índice foi revisto para 15%. "Não estou assustado, mas também não estou tranquilo", diz Schefer, em referência ao cenário da economia.

Heitor Klein, presidente da Abicalçados, associação que reúne as indústrias do setor, diz que o relato da Priority não é algo isolado. "A retração nas encomendas está acontecendo e num nível mais alto que o esperado para esse período entre estações." Segundo Klein, isso se iniciou em meados de maio e se intensificou em junho. As expectativas do setor em relação aos pedidos da coleção primavera verão estão direcionadas para a Francal, que é vista como termômetro do humor dos varejistas. Para Klein, as encomendas de junho não foram afetadas pelas manifestações, mas pelo efeito da inflação sobre o poder aquisitivo, além do endividamento das famílias.

Cássio Picoli, diretor comercial da Suzana Santos, de calçados femininos, diz que até maio as encomendas seguiam com elevação de 10% em relação ao ano passado. "Mas junho foi bem mais fraco. As encomendas caíram 15% em relação a junho do ano passado." Para ele, isso é reflexo da insatisfação do varejo com a queda de consumo verificada nos últimos dois meses. Em reuniões com varejistas durante a semana, Picoli diz que o tom era pessimista. Mas a empresa não refez o plano de produção para o segundo semestre na fábrica catarinense, que produz 12 mil pares ao dia. "Temos expectativa em relação à Francal e vamos esperar o desempenho de julho e agosto."

O lado bom da história para os calçadistas é a valorização do dólar. Se o câmbio se mantiver apreciado, as exportações da segunda metade do ano vão gerar margens mais confortáveis, mas a participação do mercado externo ainda deve permanecer entre 20% e 25% do faturamento do Priority no ano, acredita Schefer.

A Usaflex, de Igrejinha (RS), ainda conseguiu aumentar em 20% o faturamento em junho, mas isso porque o mesmo mês de 2012 havia sido mais fraco, diz o diretor comercial Rafael Lauck. No semestre, a alta ficou entre 5% e 10%, mas as incertezas sobre a economia também levam a fabricante a adotar uma projeção mais cautelosa para o resto do ano. Agora, prevê um desempenho semelhante ao de 2012, ante estimativa inicial de avanço de até 10%. Em 2012 a empresa faturou R$ 300 milhões, sendo apenas 7% com exportações.

No Ceará, principal polo calçadista do Nordeste, a Kind Calçados também está vendendo menos. O volume de encomendas, que já vinha inferior ao ano passado, caiu cerca de 10% em junho, segundo seu diretor-geral, Homero Guedes.

Segundo ele, os protestos e os bloqueios de estradas prejudicaram os negócios, porém o principal fator para o declínio das vendas é econômico. "Os clientes estão mais retraídos por conta da inadimplência. Vejo o lojista incrédulo em relação à economia", diz.



Veículo: Valor Econômico


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