Comércio externo da China desaba em junho e crescem os riscos de crescimento pífio no Brasil

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Notícia triste raramente vem no singular. Assim estamos. Além das mazelas só nossas da economia, e são muitas, os problemas estão sendo alavancados pelo que vai aos grandes parceiros, EUA e China – um parecendo sair da crise, o outro entrando, contrariando a ideia de imunidade ao declínio do mundo ocidental nos últimos cinco anos. E nós? Nós estamos na esquina errada do caminho das duas potências.

 

A novidade do gigante chinês, conhecida na madrugada pelo nosso fuso horário, é que seus pés, mesmo não sendo de barro, estão menos firmes do que se supunha. É o que se viu nos resultados da balança comercial de junho do maior exportador do mundo, além de segunda maior economia. O consenso entre os analistas, apurado pela agência Bloomberg, sugeria que as exportações aumentariam 3,7% em relação a junho de 2012, e as importações, 6%. Foi humilhante: as projeções estavam todas erradas, expondo o lado obscuro da economia chinesa.

 

As exportações desabaram 3,1%, a maior queda desde outubro de 2009 e a primeira desde janeiro de 2012, indicando que o clima recessivo no mundo é mais sério do que disse o Fundo Monetário Internacional (FMI) ao revisar para 3,1% a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) global.

 

As importações recuaram 0,7%, comparadas a junho de 2012 – um raro flagrante da fraqueza da economia interna num país em que nem o FMI tem acesso direto às contas nacionais. A comparação mensal mostrou um quadro ainda pior. As exportações caíram 4,6% em relação a maio, enquanto as importações diminuíram 9,3%. Já havia outros indícios.

 

O índice de preços no atacado em junho manteve o viés de deflação, recuando 2,7% sobre o mesmo mês de 2012, depois de já ter perdido 2,9% em maio. Foi outro sinal da enorme capacidade ociosa do parque industrial da China – ou, na mão contrária, da inapetência ao gasto entre os grandes clientes chineses, como seus satélites na Ásia, a Europa, a América do Sul e mesmo os EUA e Canadá. Outra constatação da produção girando em falso é que o índice de preços ao consumidor aumentou 2,7% em junho, acelerando sobre a alta de 2,1% em maio.

 

Pequim reforma o modelo

Na próxima segunda-feira, quando sai o resultado do PIB no segundo trimestre, vai-se saber mais da conjuntura chinesa. A expectativa é de que o PIB tenha crescido em torno de 7,5%, a meta do governo, vindo de 7,7% e 7,9% nos dois trimestres anteriores. Pode ser menos, pois os indicadores pelas óticas da oferta e da demanda estão em baixa.

Impressiona que o crédito tenha crescido US$ 14 trilhões de 2008 a 2013, subindo de 75% para 200% do PIB, e a economia siga minguando, segundo nota do analista Yiping Huang, do Barclays. Certo, por ora, é a disposição do primeiro-ministro Li Keqiang de reciclar o modelo econômico baseado em investimentos em infraestrutura e exportações, e forçar a baixa dos créditos podres ocultados pela banca estatal.

 

Alien não fala mandarim

É tal arcabouço que chegou ao teto, pois movido por investimentos (sobretudo em infraestrutura, representando cerca de 50% do PIB, e apenas 35% o naco do consumo) cujos resultados tendem a não repor o capital investido e pela exportação de bens de consumo num mundo em que todos querem vender. A repressão financeira, que com o renminbi depreciado (hoje nem tanto) sustenta o financiamento da indústria, é outra deformidade, talvez a maior, segundo alguns economistas, ao corroer por dentro a economia chinesa: o mercado de crédito e de investimentos pessoais à margem do oficial, o tal “shadow banking”.

 

A expansão de dois dígitos da economia chinesa em quase 30 anos é motivo de admiração dos estudiosos. Mas parece também uma reedição da máxima, que diz: “Você vê as pingas que tomo, não os tombos que levo”. A China é parte da crise, não um alienígena a passeio.

 

O pouco agora é muito

Não se deve superestimar o peso da China para a economia nacional. Ela absorve o grosso das exportações de soja e de minério de ferro. Mas dados recentes do BBVA de Hong Kong dizem que tais commodities representam 15% da exportação total brasileira, e o comércio com a China corresponde a menos de 2% do PIB, o que lhe dá um pedaço de 0,05 ponto percentual na taxa de crescimento anual da economia.

 

 

Talvez sejamos mais úteis à China do que ela para nós. Só que, com mais itens que impelem a economia murchando, qualquer fração do PIB faz diferença. Além disso, o suporte indireto da demanda chinesa ao crescimento é maior, e cresce com o viés de alta do déficit externo em meio à debandada do hot money, antecipando a prevista redução do laxismo do dólar. Esperava-se que a ata do Copom do Federal Reserve indicasse quando o enxugamento deve começar. As incertezas semeiam apostas contra o real, que avança ao nível de R$ 2,30, agora também pelo slowdown da economia chinesa. A síntese desses eventos é mais problemas econômicos e menos PIB, com sequelas políticas e sociais.

 

 

Veículo: Estado de Minas


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