As terras agricultáveis no Brasil estão se valorizando acima dos patamares do mercado imobiliário nacional neste ano. Segundo corretores e analistas consultados pelo DCI, esse aquecimento do mercado de imóveis rurais é resultado de dois movimentos no agronegócio brasileiro. Um é por parte de ex-pecuaristas, que têm vendido suas terras para o avanço dos grãos, e outro é o assédio de fundos de investimento, que estão engrossando a demanda por grandes áreas para a produção tanto de grãos como de carnes.
De acordo com um levantamento da Scot Consultoria, o valor dos imóveis rurais brasileiros avançou na média 7,5% em um período de apenas sete meses, entre novembro de 2012 e junho deste ano. Esse crescimento está acima do aumento de preços dos imóveis urbanos, que subiu 7,3% no País de janeiro a julho, de acordo com o índice Fipe-Zap.
"A maior procura é por áreas de pastagem com potencial agrícola, com declividade que permite mecanização, com solos profundos, chuvas", afirma Alex Lopes, analista da Scot Consultoria.
No Mato Grosso (MT), que reúne o maior rebanho de gado bovino do Brasil, esse movimento tem sido evidente. "Aqui o valor da terra para gado se manteve ou se desvalorizou. Já a terra que era para gado mas que pode ser transformada em terra para agricultura aumentou de preço brutalmente", diz Dimitri Calimerif, dono da imobiliária Omni.
Calimerif conta que também tem percebido o aumento das procuras por terras por parte de fundos de investimento com capital estrangeiro.
"Esses compradores institucionais são poucos, mas estou sentindo eles começarem a se assanhar", comenta. Para Lopes, a valorização seria maior se a lei reduzisse as restrições para compras por estrangeiros.
"É como a corrida atrás do ouro", avalia Calimerif.
Velha e nova fronteiras
De um ano para cá, o preço das propriedades que a imobiliária tem negociado no MT passou de R$ 3,5 mil o hectare para R$ 5 mil o hectare, na média. Em cidades com produção tradicional de soja, como Nova Mutum, Sorriso e Sinop, o valor da terra chega a bater R$ 30 mil o hectare.
Nos casos em que uma propriedade com pastagem é comprada por um agricultor, o preço chega a dobrar, diz Henrique Moreira, da imobiliária Fazenda MS.
Apesar da procura no MT, Moreira diz que as terras do Mato Grosso do Sul (MS) ainda estão mais valorizadas, por causa da proximidade com os compradores de São Paulo.
As propriedades paulistas, por sua vez, continuam entre as mais caras do País. José Roberto Furtado, proprietário da imobiliária Rede Rural, diz que os preços no estado estão estagnados em torno de R$ 50 a R$ 70 mil o hectare.
A maior valorização tem sido registrada na área que mais cresce em área plantada: Matopiba, a nova fronteira agrícola do Brasil, que corresponde ao oeste da Bahia, Tocantins, sul do Maranhão e do Piauí. "São áreas com grande potencial agrícola, áreas planas e com bons índices pluviométricos", destaca Alex Lopes.
No oeste baiano, que recebe 2 mil mililitros de chuvas ao ano, as terras custam no máximo R$ 20 mil o hectare. Já no Piauí, as propriedades mais caras custam R$ 12 mil o hectare.
Promessa logística
O corretor Dimitri Calimerif diz que a perspectiva de avanço da construção da Ferronorte e da construção da Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico), que atravessarão MT, está criando uma "invasão de desesperados". Um dos principais fatores de valorização dos imóveis rurais é o acesso a modais de transporte para escoar a produção.
Porém, o analista Alex Lopes diz que os planos de investimento em logística no MT não têm precificado o mercado local. "Temos grandes promessas de construções, mas efetivamente não tem acontecido nada."
Veículo: DCI