Divergências adiam solução para dívida do café

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As lideranças dos cafeicultores brasileiros já articulam novas medidas caso fracasse a proposta para revisão dos custos de produção e preços mínimos para a cultura neste ano. As discussões sobre a dívida do setor emperraram na última semana após as divergências entre os dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e dos produtores. A estatal calcula um custo médio de produção em R$ 240 a saca de 60 quilos, enquanto os dados apresentados pelos produtores de café apontam um custo médio de R$ 350 em cada saca durante a última safra. A classe produtiva afirma que a elaboração de um preço mínimo condizente com a realidade é essencial para o prosseguimento das conversas e não descarta "fortes concentrações" em Brasília para resolver a situação.

 

Entre as propostas enviadas ao governo estão o apoio à comercialização com a criação do Leilão de Opções Públicas com recursos de R$ 1 bilhão para 3 milhões de sacas à serem absorvidas pela União e a conversão em mercadoria com prazo de pagamento de 20 anos das dívidas relativas às linhas de Colheita, Custeio e Dação em Pagamento do Funcafé estimadas em R$ 2,2 bilhões.

 

Carlos Melles, deputado federal (DEM-MG) e presidente da Frente Parlamentar do Café, lembrou que a atual gestão federal se comprometeu em resolver a questão do endividamento do setor. "Em abril de 2003, toda a cadeia produtiva se reuniu com o Presidente Lula recém empossado e mostramos que a cafeicultura estava entrando em um forte ciclo de endividamento. Sabemos que ele é uma pessoa sensível a esses problemas, mas por algum motivo não tomou conhecimento da situação atual". O deputado não descarta a possibilidade de "fortes concentrações dos produtores" em Brasília para resolver a situação. "Respeitamos os Ministros Reinhold (Stephanes) e (Guido) Mantega. Mas se não resolvermos isso na próxima semana, vamos rever os procedimentos. A crise da cafeicultura pode causar desemprego no campo, que é mais silencioso em relação ao da cidade".

 

A indústria do café também apoia novas medidas para aumentar a remuneração dos produtores. Almir Filho, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), afirma que a única restrição fica com o Leilão de Opções. "O uso de recursos públicos para enxugar a oferta de mercadoria em um ano de safra baixa é muito arriscado. Sabemos que existe um crescimento do consumo interno e externo além das exportações e isso já faria os preços subirem mais". Ele disse que o preço mínimo de R$ 320 a saca que os produtores pedem é conservador. "Os custos da cafeicultura cresceram muito nos últimos anos. Para produzir com qualidade e em quantidade suficiente para abastecer o mercado interno e externo um preço abaixo disso realmente é inviável". Prém diz que medidas como as Opções podem afetar o consumidor. "Em um momento desses precisamos evitar novas altas".

 

O indicador diário do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Universidade de São Paulo (Cepea/USP) mostra que a saca do café arábica tipo 6 acumula valorização de 6,1% no mês, sendo negociado por R$ 269 a saca. Melles conta que a produtividade média utilizada pela Conab para compor os custos ficou entre 20 e 30 sacas. "A média da safra passada foi de 17,1 sacas. O que eles não podem esquecer é que 85% da cafeicultura nacional é de pequenos produtores". Disse que o problema para o avanço nas negociações está limitado a alguns funcionários de "terceiro escalão" do Ministério da Fazenda. "Apresentamos todos os custos apurados pelo Prócafé, Cooperativas, mas contra ideologia não há número que faça mudar de ideia".

 

Segundo a Conab, os preços mínimos em vigência para o arábica são de R$ 211,75 a saca e para o conillon R$ 124,40 a saca. Jorge Queiroz, analista de mercado de café da Conab, explica que a função da estatal é fazer o levantamento dos números e enviar a sugestão ao Ministério competente. Entre os aspectos considerados para avaliação estão o nível dos estoques e o volume da produção. "Todo ano é feito um estudo amplo antes de ser tomada uma decisão sobre o preço mínimo". No entanto, o analista disse que não sabe qual a estimativa para este ano. Segundo disse, os estoques públicos estão atualmente em 691 mi sacas, sendo 521 mil sacas do Funcafé e 170 mil sacas com a Conab. Já os estoques privados estão em cerca de 3,5 milhões de sacas. "Isso só consegue atender o mercado interno e as exportações por um mês", avalia Queiroz.

 

Gilson Ximenes, presidente Conselho Nacional do Café (CNC) diz que vai esperar a volta do Ministro da Fazenda para decidir o futuro.

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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