Herdeira transforma a gestão da fabricante de filtros Europa

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Quando o comando da fabricante de filtros de água Europa, a maior do setor no país, com R$ 200 milhões em vendas ao ano, caiu no colo da advogada recém-iniciada na carreira, Manuella Curti de Souza, filha do fundador Dácio Múcio de Souza, enfrentou uma situação completamente inesperada. A tragédia familiar da perda do pai e do irmão em um intervalo de apenas seis meses levou Manuella, com então 26 anos, a tomar uma decisão - ao lado da mãe, Sueli Curti, e da irmã, Nathalia: manter a companhia sob o controle da família. E ficar à frente do negócio. O problema é que Manuella não estava pronta para isso.

O irmão Dácio Múcio de Souza Júnior era o sucessor. Ocuparia a cadeira do pai, doente de câncer. Em dezembro de 2009, Dácio foi assassinado durante uma discussão com um segurança numa padaria em São Paulo. Em julho de 2010, o pai falecia de câncer, aos 64 anos. Na época a companhia, fundada em 1984, estava sendo sondada por empresas estrangeiras interessadas em comprar o negócio, algo recorrente na história do grupo. A ideia de uma associação ou venda foi deixada de lado e Manuella e o sócio Antonio Carlos Camargo decidiram tocar a operação - ela na presidência. Camargo continuou na diretoria industrial.

Manuella contratou uma consultoria, cujo nome ela não revela, para mudar a forma como a empresa era conduzida e abrir espaço para uma expansão mais rápida. Entre 2009 e 2011, as vendas cresceram 5% ao ano, em média. "Foi um desgaste emocional enorme. Eu acho que a perda [do pai] acabou me dando coragem de fazer o que era preciso", diz.

Com gestão centralizada nas mãos de Múcio de Souza e Camargo, a Europa tinha apenas um diretor administrativo e financeiro, Carlos Quioshi Yasumura, com 18 anos de casa. Todo papel que circulava pela empresa era assinado por Múcio de Souza. "Quando cheguei [na empresa], transferiram o que meu pai fazia para mim. Certa vez me pediram para decidir algo de uma ação de marketing, liguei no gerente da área e perguntei o que ele achava. E ele não sabia dizer", conta Manuella. "Tivemos que mudar a cultura e fazê-los entender que eu não era meu pai. Que teríamos que trazer todo mundo para discutir e tomar decisões ", afirma a empresária, hoje com 29 anos.

A empresa mudou de sede neste ano, está analisando a criação de novos comitês e faz ainda em 2013 uma mudança no conselho de administração, criado em 2011.

O prédio alugado da sede anterior, com 10 andares na região da avenida Paulista, foi devolvido neste ano e agora a Europa ocupa quatro andares em outro prédio na mesma região. Mudaram porque perceberam que pagavam aluguel por um espaço ocioso. "Os funcionários não se viam. Eu poderia passar uma semana inteira sem ver ninguém do telemarketing se não quisesse".

Cinco diretores foram contratados nos últimos tempos, com a criação de funções que não existiam, como diretoria de recursos humanos e diretoria comercial. Os primeiros foram contratados em 2011 e há dois meses, aconteceu uma última admissão. Um comitê inédito para a empresa também está para ser montado neste ano, na área de produtos. A companhia diz que é líder na área de purificadores de água, seguida pela Lorenzetti, mas não há estatísticas oficiais desse segmento no país.

O conselho de administração formado por membros da família, pelo sócio Camargo e pelo empresário Wilson Poit (dono da Poit Energia), teve uma baixa, com a saída de Poit. Ele deixou o cargo há três meses para ocupar outras funções profissionais, e um novo membro será escolhido neste ano.

Entre as estratégias, o comando da Europa analisa o início da venda on-line de produtos em 2014. Também deve montar uma maior estrutura de operação no Nordeste e no Centro-Oeste nos próximos anos. Neste momento, o grupo planeja contratar um grupo de cinco revendedores da marca para o Nordeste, onde a presença da empresa é muito discreta.

Acordos estão sendo costurados para ter quiosques em lojas de varejo. A meta é chegar a 95 quiosques ao fim de 2013. O grupo tem 170 distribuidores, que vendem os oito modelos produzidos em duas fábricas, em Guarulhos (SP).

São movimentos cruciais, diante de uma concorrência que já se estabeleceu e quer uma fatia do mercado. Electrolux, Brastemp (da Whirlpool) e Pureit (Unilever) começaram a explorar o mercado nos últimos três anos.

Manuella não informa nível de rentabilidade ou lucro após as mudanças na gestão. Informa apenas que prevê aumento de 10% a 15% nas vendas neste ano, para algo em torno de R$ 220 milhões. A média de 2009 a 2011 foi de 5%.

A Europa está profissionalizada e mais enxuta, e Manuella diz que a família não pensa em vender a companhia. "Não estou tocando isso para vender [a empresa]. Cresci aqui e isso virou parte de mim. Claro que olhamos todas as possibilidade, e a empresa é mais do que eu e minha família. Mas esse não é o plano agora".




Veículo: Valor Econômico


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