Setembro deve ser um mês decisivo para o varejo e a indústria de de consumo no país. Nas próximas semanas varejistas e fabricantes de bens duráveis definem o volume de encomendas para o fim do ano - período que chega a ser responsável por um terço das vendas anuais do comércio no país. No ano em que o comércio registra o mais baixo ritmo de crescimento desde 2009, há duas principais pressões na mesa de negociação, e com forças opostas.
Se para a indústria, o dólar força um movimento de repasse dos custos aos preços, para as maiores varejistas do país, o ritmo de consumo em queda proíbe reajustar tabelas dos bens duráveis. Entre o fim de setembro e início de outubro, a indústria deve colocar a discussão na pauta de negociações dos pedidos para o Natal, e de forma mais contundente do que fez até agora, apurou o Valor. Isso deve ocorrer especialmente na indústria eletroeletrônica, com produtos que chegam a ter metade dos componentes importados.
O assunto já foi mencionado pelos fabricantes de linhas marrom (som e áudio) e branca (geladeira, fogão e lavadora de roupa) nas negociações em julho e agosto, mas de forma mais branda. Cadeias líderes de mercado - como Magazine Luiza, Máquina de Vendas e Cybelar - ainda tentarão adiar o aumento nas próximas semanas. O Valor apurou que a Via Varejo (Casas Bahia e Ponto Frio) começa a negociar pedidos para Natal neste mês e prevê reajustes pontuais. A companhia já teria orientado os fabricantes, meses atrás, a reduzir o peso de itens importados nos produtos para evitar que uma eventual escalada do dólar afetasse os preços no fim do ano.
"Há uma questão de demanda fraca e aumento da concorrência entre algumas marcas, especialmente em eletrônicos, que ajuda a segurar os aumentos. Por isso acreditamos que dá para adiar os reajustes", disse Ricardo Nunes, presidente da Máquina de Vendas, terceiro maior grupo de varejo eletroeletrônico do país. Segundo ele, já vieram aumentos na área de informática em agosto, na faixa de 2% a 3%. Na linha branca, os fabricantes têm mencionado altas nessa mesma faixa, mas ainda não se bateu o martelo, disse Nunes.
A recomposição parcial do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) da linha branca em junho, que levou a um aumento nos preços, já teria sido sentida no bolso pelo consumidor. Na visão das redes, isso pode desestimular a indústria a pleitear reajustes neste momento.
De acordo com Marcelo Silva, diretor superintendente do Magazine Luiza, o desempenho de vendas em agosto "praticamente acompanhou o movimento de julho", com uma "pequena" alta em relação ao ano passado. "A indústria sabe que o momento é de cautela, então não veio nenhum reajuste mais pesado até agora. Está tudo parado ainda. A questão é que além do dólar, há outros custos pesando como frete e mão de obra, então vamos segurar isso na medida do possível".
O fator determinante nessas negociações será o nível de estoques, observa a direção da Lojas Cem. Historicamente, a empresa tem mais produtos estocados que a média do setor - o mercado estima que o estoque da rede chegue a 60 dias. A média do mercado é de 30 a 40 dias. "Estamos numa situação diferente do restante. Podemos ir negociando sem pressa", disse José Domingos Alves, supervisor-geral da Lojas Cem.
Há varejistas que já foram informadas da chegada de novas tabelas no mercado. A rede de varejo paranaense Romera (com 205 lojas em sete Estados) deve repassar os aumentos de forma escalonada ao consumidor. Com forte crescimento neste ano - a empresa atua em regiões em que a demanda sentiu menos o desaquecimento econômico -, a empresa precisa recompor estoques e teve que fechar novos pedidos. "Seguramos o que foi possível até agosto, mas já fomos informados por marcas líderes que haverá alta de 1,5% em média em linha marrom e de 2% a 3% em linha branca para o próximo pedido a ser colocado", disse Anunciata Luiza Romera, presidente da Romera, com vendas de R$ 1 bilhão em 2012.
As redes ouvidas pelo Valor informam que devem partir para as negociações com pedidos entre 8% e 15% acima do volume vendido no Natal de 2012, quando a demanda ficou abaixo do esperado. Após as primeiras encomendas em setembro, esses números vão sendo ajustados de acordo com a demanda entre outubro e novembro. A Confederação Nacional do Comércio espera um aumento no volume de vendas de 4,5% no Natal em relação a 2012.
Veículo: Valor Econômico