Ainda que a alta do dólar esteja ajudando as exportações da indústria de calçados nos últimos meses, a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) é pessimista quanto aos resultados que a indústria pode conseguir com o mercado externo este ano.
Em entrevista ao Valor, o presidente da associação, Heitor Klein, afirmou que não espera um resultado superior ao obtido com as exportações em 2012. "Se o valor [das exportações] conseguir se manter será uma façanha", afirmou Klein. "Estamos com um crescimento das exportações em relação ao ano passado em termos de volume, mas com um empate no valor no acumulado deste ano até julho", disse o executivo.
Até julho, o Brasil exportou 69,5 milhões de pares de sapatos, o que somou US$ 628,2 milhões em vendas, segundo a associação. O número é alinhado com o valor das exportações registradas no mesmo período de 2012: US$ 628,3 milhões. O Brasil exporta cerca de 15% da produção de calçados nacional.
Klein reconhece que a desvalorização do real frente ao dólar e a política de desoneração de exportações guiada pelo governo, com o Reintegra (que garante crédito tributário de 3% do valor exportado) favorecem o setor. Para o empresário, no entanto, o cenário para os próximos meses ainda é incerto.
"O importante é que o dólar se fixe no patamar que está ou um pouco mais elevado e se consolide porque está muito volátil e os agentes têm receio de firmar posições porque ainda não é seguro que ele vá se fixar nesse patamar", afirma. Segundo Klein, o setor ainda não tem um número fechado para a expectativa de exportação em 2013 por conta da flutuação da moeda americana. O número só deve ser divulgado após setembro, mês em que ocorrem as feiras internacionais no hemisfério norte. "É a partir delas que a gente vai poder testar a reação do mercado a nossas ofertas com o novo custo", disse.
"Estamos estagnados em uma coisa em torno de US$ 1,1 bilhão por ano [no valor das exportações], mas a nossa performance padrão é US$ 1,8 bilhão", disse, em referência ao ano de 2007. "A desvalorização já é sentida, mas não ainda em um volume que nos permita retornar àquela performance tradicional do setor".
O futuro do Reintegra é outro fator de preocupação para o setor no médio prazo. O Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras está garantido por decreto da presidente Dilma até o fim do ano, mas há duas semanas o secretário da Receita Federal, Carlos Alberto Barreto, afirmou que não há espaço fiscal para o prolongamento do incentivo.
O assunto está previsto para ser discutido no Congresso no dia 17. "Estamos trabalhando para que [o Reintegra] possa vigorar no próximo ano", afirmou, durante uma discussão acerca de barreiras técnicas a exportações no Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) esta semana.
Veículo: Valor Econômico