Uso de cartões segue em expansão no Brasil

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Especialistas apontam ascensão das classes C e D e concorrência entre as operadoras como fatores de crescimento

Pagar as compras usando cartão de crédito ou de débito não é exatamente uma novidade no Brasil. A história do primeiro no País, por exemplo, data dos já longínquos anos 1950. Mesmo assim, a cada ano que passa, a impressão é a de que seu uso se torna cada vez mais comum. Dados da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) comprovam essa sensação ao mostrarem, por exemplo, que apenas no primeiro trimestre de 2013 foram movimentados quase R$ 185,9 bilhões em cerca de 2,1 bilhões de transações com cartões no Brasil, crescimentos de 16,9% e 14,4%, respectivamente, em relação ao mesmo período do ano anterior.

Essa expansão é ainda mais forte no caso do débito, que nos últimos cinco anos cresceu 139% contra 105% do crédito, ultrapassando-o no total de transações pela primeira vez em 2012. No ano passado, foram registrados 4,1 bilhões de operações com o cartão de débito e 4,04 bilhões com operações de crédito no Brasil. A explicação, segundo economistas, passa pela ascensão econômica das classes C e D nos últimos anos.

“Embora a porcentagem de pessoas que utilizam cartões nas classes mais altas seja muito maior, quem está fazendo esses números crescerem são essas classes mais baixas, porque estão começando a descobrir a ferramenta”, afirma a economista-chefe da Fecomércio-RS, Patricia Palermo. “São pessoas que não tinham acesso a conta em bancos”, complementa o economista da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL-POA), Gabriel Torres. “Nos últimos anos, com o emprego formal e o mercado aquecido, essas classes tiveram como comprovar renda, abrir uma conta no banco e, consequentemente, utilizar cartão, principalmente o de débito”, continua.

Cláudio Lodi, dono de um minimercado na rua Olavo Bilac, no bairro Farroupilha, também percebe a tendência. “O pagamento mais comum ainda é com dinheiro vivo, mas dos cartões o mais utilizado aqui é o de débito”, afirma o comerciante. Segundo ele, a opção do consumidor pelo débito acaba sendo uma vantagem para o seu negócio, já que o retorno do dinheiro acontece em 24h, enquanto na modalidade crédito ocorre em 30 dias. Lodi, que iniciou o negócio em 2002 e ainda mantém o clássico caderninho entre os clientes mais antigos, passou a aceitar cartões ainda em 2006 com duas máquinas, atualmente reduzidas a uma, graças à convergência das mesmas após o recente fim do duopólio no setor. “Foi um pedido dos clientes na época e acabamos nos adaptando, mas gerou mais uma troca de meio de pagamento do que aumento nas vendas em si”, afirma.

 “Para o lojista, a venda por cartão é necessária pela demanda do mercado, muita gente tem o cartão e quer utilizá-lo, então ou o lojista entra no jogo ou deixa de vender”, afirma o presidente da Associação Gaúcha para Desenvolvimento do Varejo (AGV), Vilson Noer. O dirigente comenta que as taxas de administração, variáveis por setor, mas de cerca de 3% por transação, continuam sendo elevadas para os pequenos lojistas. “Hoje, porém, a situação é muito melhor do que há cinco anos. As taxas reduziram a um terço do que eram e, agora, o comerciante já pode negociar e direcionar suas vendas para determinada operadora que lhe ofereça melhores condições”, afirma Noer.
Facilidade e segurança ampliam uso do débito

Outros pontos levantados pelos especialistas para explicar o aumento na utilização de cartões são a praticidade e a segurança, tanto para o lojista como para o usuário. “Quem compra com o cartão de crédito tem a facilidade de fazer os pagamentos em uma data única, e muitas vezes sem nenhum tipo de juros. É um sistema altamente protegido de fraudes e roubos: se você perde, pode suspender o cartão sem nenhum ônus, diferentemente do que acontece com o dinheiro em mãos”, reforça a economista-chefe da Fecomércio-RS, Patricia Palermo. Já para o comércio, a especialista sustenta que a vantagem está na redução do riscos com fraudes e inadimplência.

O presidente da Associação Gaúcha do Varejo (AGV), Vilson Noer, segue na mesma linha. “A tendência é de que a maior expansão seja registrada na função débito pela segurança que oferece. Para Noer, esse crescimento se dará em cima de outros meios de pagamento, como o dinheiro e o cheque, que representam ainda 25% das vendas no Rio Grande do Sul.

Já em relação ao crediário e aos cartões próprios de lojas, responsáveis por 30% do total das vendas no Estado, a situação se mostra estável. “Há uma tendência também de redução dos crediários próprios pelo aumento do uso de cartões, mas espera-se que o crediário se aprimore cada vez mais dentro de mecanismos que facilitem a relação do lojista com o cliente”, informou o presidente da AGV.
Crédito pode ser afetado pela desaceleração da economia e endividamento das famílias
Para os cartões de crédito a previsão é um pouco menos otimista. O economista da CDL-POA, Gabriel Torres, explica a expansão da modalidade por conta do forte crescimento da economia brasileira e da oferta de crédito nos últimos anos. “O endividamento das famílias, causado pela expansão da oferta de crédito no passado, deve retrair seu uso, já que as pessoas têm menos espaço no orçamento para entrar em novas dívidas”, afirma.
 
O economista explica que o prazo médio das compras parceladas no cartão de crédito é de oito a nove meses, enquanto em empréstimos pessoais é de 53 meses, em média. E a diferença no prazo resulta em diferentes taxas de juros também: 192% ao ano no cartão contra 38% ao ano em outras modalidades. As compras à vista no cartão de crédito representam quase 95% do total de utilizações do mesmo, excetuando-se o chamado rotativo, que são as faturas não pagas. “Com o prazo mais curto, automaticamente o saldo é renovado. Você utilizou esse mês, pagou a fatura e o saldo já está disponível novamente”, afirma Torres.
 
Por conta da desaceleração da economia nacional nos últimos meses, porém, a previsão do economista é de uma estagnação do aumento do uso do crédito também. “Enquanto não tivermos um crescimento mais forte da economia novamente e, portanto, aumento da renda, seu uso deve permanecer estável.”



Veículo: Jornal do Comércio - RS


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