Chocolate amargo conquista consumidor

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Consumidores da Califórnia até a Suíça estão criando gosto pelo chocolate escuro, ou amargo, dando uma mordida no suprimento mundial de cacau e elevando os preços dos doces, tanto nas lojas de chocolates finos como no mercado de massa.

O custo de um quilo de chocolate nos Estados Unidos deve alcançar um recorde de US$ 12,25 este ano, um aumento de 45% em relação a 2007, segundo a firma de pesquisas de mercado Euromonitor International.

Os preços estão em alta devido a uma escassez de grãos de cacau, que são torrados e moídos para fazer chocolate. Especialistas do mercado estimam que a oferta ficará aquém da demanda este ano pela primeira vez desde 2010 e que a seca deverá prejudicar a próxima safra na África Ocidental, onde 70% dos grãos de cacau são produzidos.

O déficit no fornecimento está surgindo justamente agora que os americanos e europeus estão comprando mais chocolate, especialmente as variedades mais escuras, tanto por razões econômicas como de saúde. O chocolate amargo em geral leva mais cacau por unidade de peso do que o chocolate ao leite, o que significa que até mesmo pequenas mudanças nas tendências de compra podem exercer um grande impacto no mercado de futuros de cacau, avaliado em US$ 5,4 bilhões, segundo operadores e investidores.

Os preços do cacau aumentaram 21% no terceiro trimestre até agora, superando os índices gerais de commodities. Os fundos de hedge e outros gestores de ativos estão fazendo apostas otimistas nos futuros de cacau em números sem precedentes, confiando em que o crescimento econômico estável das economias desenvolvidas vai continuar a impulsionar a recuperação. Grandes aumentos no consumo em mercados emergentes, como o Brasil, também estão ajudando a elevar os preços.

Os números recentes de vendas de chocolate revelam "uma recuperação melhor que a esperada em mercados importantes como América do Norte e norte da Europa", diz Jonathan Parkman, responsável por ativos do setor agrícola na Marex Spectron, corretora londrina de commodities. "A volta da confiança permitiu ao consumidor comprar um pouco mais de chocolates das marcas de luxo."

Este ano, o consumo total de chocolate nos Estados Unidos deverá crescer pela primeira vez desde 2008, segundo a Euromonitor. A demanda deve aumentar na Europa Ocidental pelo quarto ano consecutivo.

"As pessoas estão voltando a comprar por impulso", diz Kip Walk, diretor de sustentabilidade da Blommer Chocolate Co., que fabrica chocolate para empresas de alimentos, acrescentando que a procura pelo chocolate refinado reflete uma demanda reprimida, que continua a se recuperar da crise financeira global.

O chocolate amargo é o maior motor dessa nova demanda, segundo a firma de pesquisa de mercado NPD Group.

A participação de mercado das barras de chocolate amargo nos EUA vai se aproximar de 20% este ano, ante pouco mais de 18% em 2008, segundo a Euromonitor. Na Suíça, onde o consumo de chocolate per capita é dos mais altos do mundo, a proporção do chocolate escuro saltou de 22% para 30% nesse período.

"Há uma tendência geral em favor do chocolate escuro", disse Nicholas Fereday, analista da indústria de alimentos do Rabobank. "O benefício do alto teor de cacau é ter um menor teor de açúcar, e é isso que vai atrair quem quer reduzir calorias."

No início deste mês, a Comissão Europeia decidiu que a fabricante de chocolate suíça Barry Callebaut AG pode anunciar, legalmente, que o consumo de um dos seus produtos de chocolate, o Acticoa, pode ajudar a manter uma circulação sanguínea saudável.

Os recém-convertidos ao chocolate amargo dizem que foram conquistados pelos muito promovidos benefícios à saúde e pelo menor teor de açúcar em relação ao chocolate ao leite.

"Quando fiquei mais velha passei a gostar mais do chocolate amargo, sabendo que tem mais valor nutritivo que [o chocolate] ao leite", diz a estudante de nutrição Charlotte Vance, de 22 anos, que é de Los Angeles.

Os fabricantes de doces já notaram a tendência. A Hershey Co., a maior fabricante de doces dos EUA em vendas, vem ampliando sua linha de produtos, incluindo versões em chocolate amargo de marcas conhecidas como Kit-Kat.

Alguns investidores, porém, acreditam que a recuperação no mercado de futuros de cacau é exagerada.

As perspectivas para o fornecimento da África Ocidental estão muito pessimistas, e os preços do cacau provavelmente cairão de novo logo que a colheita começar, em meados de outubro, disse Shawn Hackett, presidente da corretora e consultora Hackett Financial Advisors, da Flórida.

O mercado de futuros de cacau está passando por um "frenesi", disse Hackett. Isso tem todos os elementos de especulação, disse.



Veículo: Valor Econômico


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