Os pequenos comerciantes deverão enfrentar de forma bem mais severa as consequências do impasse - ainda não solucionado - entre bancários e banqueiros, de acordo com a avaliação de líderes cearenses do setor. A falta de soluções e recursos tecnológicos - como cartão de crédito - é apontada como principal motivo do prejuízo que os comércios de bairro e similares vão amargar até o término da greve dos bancos.
"As pequenas mercearias, os comerciantes de bairro, não costumam fazer uso de uma estrutura eletrônica até mesmo porque a clientela deles também não costuma ter acesso a este tipo de tecnologia", diz o presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Fortaleza, Freitas Cordeiro.
Sem poder creditar a conta no cartão de crédito e sem poder gerar um boleto para ser pago no caixa eletrônico, resta a este pequeno empresário, segundo o presidente do Sindicato do Comércio Varejista e Lojista de Fortaleza (Sindilojas), Cid Alves, "anotar tudo que é conta na caderneta". Isso porque, a clientela dele, como apontou Freitas Cordeiro, não está afeita a recursos modernos e tem dificuldade de pegar o dinheiro quando o serviço de atendimento presencial dos bancos não está disponível.
Para Cid Alves, esta situação que se desenha agora deverá reverberá com maior intensidade daqui há um ou dois meses, "um prejuízo futuro, porque haverá uma inadimplência generalizada" na praça.
"A maioria dos nossos clientes não sabe usar o código de barra para pagar no caixa eletrônico. Então, é inadimplência do nosso cliente, inadimplência nossa e isso vai estourar daqui há um mês ou dois, com certeza", diz. Isso, para Alves, deve desencadear um alto índice de nomes sujos na praça pelos serviços de negativação que devem comprometer o comércio no fim do ano para estes consumidores de menor poder aquisitivo. Os que deverão escapar deste problema, segundo apontou o presidente do Sindilojas, "é quem tem dinheiro em conta e consegue fazer operações via internet".
Já os comerciantes de maior porte sequer devem sentir algum reflexo da paralisação dos serviços dos bancários para a CDL Fortaleza. "Hoje, uma greve dessas tem repercussão bem menor do que tinha há dez anos por conta de uma ferramenta fantástica que utilizamos: a internet. A maioria esmagadora das transações atualmente é feita no plástico, via cartão de crédito, ou on-line, pela internet", defende Freitas Cordeiro.
Acesso
Ele lembra que, para quem tem conta, o acesso ao dinheiro e demais serviços bancários estão todos disponíveis nos caixas eletrônicos e também existem "uma rede de recebíveis" onde as pessoas podem quitar as dívidas que chegam. O presidente da CDL Fortaleza ainda ressalta que "dinheiro vivo não é nem mais tão usado assim por questões até de segurança" e isso diminui os impactos da paralisação.
Para solucionar a questão entre bancários, a Câmara dos Deputados discute a realização de uma audiência pública para intermediar as questões.
"Os bancários seguem em luta, de um modo muito intenso, com a maior parte das agências bancárias paradas. Agora, chama a atenção a ausência de resposta da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) às reivindicações. Não está havendo diálogo, nenhuma demonstração de interesse em resolver a questão", ressalta o deputado Chico Lopes, integrante da Comissão de Trabalho, na qual será realizada a audiência.
Enquanto a solução não é dada, a coordenadora executiva do Procon Fortaleza, Cláudia Santos, ressalta que os empresários prejudicados podem recorrer à Justiça para terem os prejuízos ressarcidos. "Todos os danos causados são de responsabilidade da instituição financeira, segundo o Código de Defesa do Consumidor, no artigo 14, determina".
A coordenadora explica que o impasse entre os bancos e seus funcionários não pode prejudicar o cliente final, nem mesmo se ele for um empresário e, caso eles sejam lesados, devem recorrer à Justiça. "Não precisa nem provar o dano, basta constatar o fato que gera o dano, ou seja, a greve. E isso é notório. Assim, ele deve acessar o judiciário e pleitear uma indenização", afirma.
Veículo: Diário do Nordeste