O empresário Elias Tergilene, que fundou há cinco a Rede Uai Shoppings, encontrou uma forma de lucrar apostando na formalização de ambulantes. Voltada ao comércio popular, a empresa entra em regiões periféricas, formaliza os vendedores e resolve um problema que caberia às prefeituras: o comércio informal.
A Uai foi fundada em Minas Gerais e, segundo a Associação Brasileira de Shopping Center (Abrasce), é o primeiro empreendimento com apelo realmente popular. Segundo Tergilene, os complexos em operação da Rede Uai são compostos por ex-vendedores ambulantes, popularmente conhecidos como camelôs. "A iniciativa de criar shoppings populares veio em Minas Gerais, a partir dos 4 mil ambulantes que 'degradavam' o centro de Belo Horizonte", diz Tergilene, que além de presidente da Rede Uai é sócio do Grupo Domio, marca italiana especializada em móveis. O empresário conta que também já foi camelô.
Por meio de parcerias com a iniciativa pública e a privada - a Uai não compra os terrenos, firma parceria de concessão e divide os lucros que o empreendimento dá com seus sócios -, a empresa conta com cinco empreendimentos em funcionamento em regiões centrais e periféricas de Minas Gerais e Manaus. "Transformamos esses camelôs em microempreendedores com isso conseguimos trazer progresso econômico e social a essas regiões", explicou.
Tergilene esclarece ao DCI que em cinco anos é possível que esses ex-camelôs tornem-se de pequenos a médios empresários, uma vez que a Uai os ajuda a ter voz frente à indústria. "Para ajudar a acabar com a venda de produtos piratas, criamos cooperativas de compras. Com essas cooperativas os novos empresários passam a dialogar com os fornecedores sem a necessidade de um atravessador [indivíduo que revende produtos mais caro que o fornecedor direto]", explicou.
Com perspectiva de faturar R$ 26 milhões este ano, só com o aluguel, Tergilene prepara a chegada a São Paulo. "Mostramos o projeto ao governo e estou procurando um terreno em São Paulo." O executivo mencionou ao DCI dois bairros mais periféricos de São Paulo: Itaquera e Penha em que existe a possibilidade da implementação de seu projeto, mas Tergilene quer mesmo é estar nas comunidades [favelas] da capital.
"Queria um terreno em Heliópolis ou Paraisópolis", disse. E completou: "Os secretários da Prefeitura de São Paulo ficaram animados com o nosso projeto." Só na primeira comunidade mencionada estima-se que existam 3 mil comerciantes que atendem a demanda de compra de cerca de 200 mil habitantes que residem em Heliópolis.
O empresário defende também que os shoppings populares devem ser administrados pela iniciativa privada, uma vez que todos as tentativas das prefeituras falharam. "É só você lembrar o que aconteceu em São Paulo, na época em que o Gilberto Kassab tentou tirar os camelôs das ruas. O mesmo aconteceu em Brasília, Fortaleza, Recife e vários outros estados", argumentou.
Além de São Paulo, o Morro do Alemão, no Rio de Janeiro, em breve receberá um shopping popular. "Vamos inaugurar o primeiro shopping dentro de uma favela. Mas não será apenas esse, queremos chegar também a comunidades que não foram pacificadas ainda", explica o executivo. Elias Tergilene afirmou também que, projeto piloto de outros cinco shoppings dentro de comunidades já foram enviados à Prefeitura do Rio de Janeiro.
A Uai quer investir cerca de R$ 1 bilhão nos próximos cinco anos em novos empreendimentos, e a intenção é abrir dois novos shoppings por ano até 2023, chegando a 25 operações.
Concorrência
Em São Paulo os empreendimentos da Rede Uai vão competir diretamente com o Shopping da 25 de Março e com a Feirinha da Madrugada - espaço esse que tem previsão de reabertura, após reforma estrutural do espaço, neste mês. Quem também pode ser um competidor direto dos empreendimentos da Rede Uai Shoppings é o Mais Shopping localizado em um dos maiores polos comerciais da cidade de São Paulo. O empreendimento é interligado ao metrô Largo Treze e ao terminal de ônibus Santo Amaro da estação de trem da região, local de grande fluxo de consumidores.
Na capital paulista já existem operações que atendem ao público de menor renda, como o Shopping Miller Boulevard, localizado no Brás. Inaugurado em 2009 por um grupo de empresários da região, o empreendimento tem 34 lojistas e segundo Leandro Cabra, administrador do shopping poucos são ex-camelôs. "Temos um número maior de vendedores que deixaram de representar marcas e resolveram abrir lojas." Por ser um polo atacadista também, ele recebe em média 16 mil pessoas ao mês. Cabra acredita que o comércio informal das ruas atraí fluxo de pessoas ao empreendimento. "Depois que a Feirinha da Madrugada foi fechada, o comércio da região do Brás sentiu queda das vendas", disse.
O interior também mostra potencial para empreendimentos populares, tanto que a cidade de Porto Feliz receberá o seu primeiro empreendimento. Administrado pela Demark Administração de Shopping Centers, o Shopping Porto Miller Boulevard tem como foco o público C. Para André Pinto Dias, sócio da administradora, ele chega a uma região que ficou anos sem receber progresso econômico. "Lá tem muito potencial, as fábricas estão voltando para a região", disse.
Veículo: DCI