Depois de segurar os preços para garantir as vendas do final do ano, os fabricantes de eletroeletrônicos já começam a repassar o impacto da desvalorização do real. Como a maior parte dos componentes do setor são importados, os reajustes sempre foram considerados inevitáveis pelas indústrias, mas os preços não foram alterados nos últimos meses de 2008. Agora, a situação começa a mudar e os preços para os consumidores já estão mais caros em algumas categorias.
"Esses repasses são naturais e indispensáveis. Todo mundo vai ter que repassar os custos", afirmou Lourival Kiçula, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Eletroeletrônicos (Eletros). "Toda a indústria manteve os preços no final do ano. Começamos os repasses em janeiro", afirmou Fernando Schneider, gerente de produtos da linha Bravia Theatre da japonesa Sony.
Segundo o executivo, um modelo de Home Theater já foi reajustado este mês - passou de R$ 1.799 para R$ 2.199, alta de 22% - e outros dois terão novos preços a partir de fevereiro - um dos modelos também passará de R$ 1.799 para R$ 2.199 e o outro de R$ 3.299 para R$ 3.699. "E estamos anunciando a subida de preços dos mini system também", explicou. De acordo com Schneider, os reajustes para mini-system devem ficar entre 10% e 20%.
Apesar da necessidade em repassar a alta do dólar, as indústrias precisam negociar com as varejistas. Jeferson Pereira, diretor financeiro da varejista Dudony, com lojas no Paraná e no interior de São Paulo, afirmou que existe uma "tendência de repasse". "Mas tudo vai ser negociado. Não existe ultimato", afirmou o executivo.
O temor de quedas muito bruscas nas vendas ainda é grande e causa apreensão no comércio e nas indústrias. "Vai ser natural uma queda nas vendas", minimizou Schneider. Segundo ele, como todas as fabricantes seguraram os preços no final do ano, as vendas foram positivas, mas esse começo do ano está abaixo do que foi previsto antes da crise. "O mercado está bem abalado e nós estamos bem cautelosos", disse. As vendas de produtos de mercados mais saturados, como DVD players e mini-system, já estão mais baixas que as registradas no mesmo período do ano passado, segundo Schneider.
Apesar de todas as dificuldades que a multinacional japonesa vem enfrentando ao longo deste ano fiscal (ver matéria abaixo), existe um investimento que Schneider acredita que deve acontecer: a produção no Brasil de aparelhos de Blu-ray, tecnologia mais moderna que substituirá o DVD. "É inevitável acontecer uma produção em Manaus. O investimento está em fase de avaliação em Tóquio", diz o executivo. Com a produção local, segundo Schneider, o preço deve cair ainda mais. Mesmo importado, a queda no preço tem sido o maior aliado das vendas de aparelhos de Blu-ray. No começo do ano passado, os aparelhos custavam R$ 3 mil. No segundo semestre de 2008, a Sony lançou uma nova linha que custavam menos de R$ 2 mil. A queda nos preços impulsionou as vendas, segundo Schneider. "Passamos a vender quase dez vezes mais do que vendíamos", disse.
As vendas do último trimestre de 2008 poderiam ser melhores, mas, mesmo assim, foram considerada positiva pela companhia. "Foi um desempenho muito bom. Dentro da expectativa. Até ficamos surpreso por conta do impacto da crise", disse. Como o preço dos aparelhos - hoje produzidos na Malásia - estão em queda no mundo, a alta do dólar tem sido compensada. Mas Schneider não sabe se conseguirá segurar ao longo do ano. "Depende da cotação do dólar", disse.
Apesar de ainda estar em fase de avaliação na Sony, empresa que desenvolveu o formato, a LG Electronics informou que iniciou a produção de Blu-ray em Manaus no final do ano passado
Veículo: Gazeta Mercantil