Ubisoft, da França, adquire a Southlogic

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Seis meses depois de desembarcar em São Paulo, com a tarefa de criar um estúdio para desenvolver jogos no Brasil, o francês Bertrand Chaverot - responsável pelas operações da gigante do videogame Ubisoft no país - não só cumpriu sua missão como deu um passo adicional. A companhia acaba de adquirir a brasileira Southlogic, de Porto Alegre.

 

Com o negócio, de valor não revelado, a Ubisoft dobra o número de profissionais no país: à equipe original da companhia, que conta com 20 pessoas em São Paulo, somam-se outras 21, vindas da Southlogic. A marca brasileira desaparece, mas o grupo da Southlogic continuará baseado no Rio Grande do Sul. 

 

"O que nos atraiu é que eles formam um time jovem, com idade média de 29 anos, mas já contam com uma experiência de 12 anos na criação de jogos em várias plataformas", diz Chaverot. 

 

As negociações em torno da aquisição começaram em setembro do ano passado, mas foram precedidas por meses de convívio. Em dezembro de 2007, antes mesmo de assumir a condução dos negócios da Ubisoft no Brasil, Chaverot fechou um contrato com a Southlogic para a criação de um game. "Na época, eu era diretor da divisão de jogos desenvolvidos por terceiros e já sabia que viria para o país", conta o executivo. 

 

Além dos processos de avaliação financeira que costumam acompanhar esse tipo de negócio - a chamada "due dilligence" - a Ubisoft trouxe técnicos do Canadá, onde fica um de seus maiores estúdios no mundo, para atestar a qualidade da Southlogic. "Os canadenses passaram uma semana aqui e confirmaram o que tínhamos identificado em relação à criatividade e experiência", afirma Chaverot. 

 

Inicialmente, as duas equipes brasileiras da Ubisoft vão ficar concentradas na criação de jogos para o console portátil Nintendo DS. A previsão da companhia é lançar, no fim de setembro, o primeiro game feito pelo time de São Paulo. Trata-se de um título para meninas entre 8 e 13 anos de idade. O projeto é mantido em segredo, mas seu desenvolvimento é cem por cento brasileiro, diz Chaverot, o que inclui todas as fases de criação, desde a história e o roteiro. 

 

Outro jogo para Nintendo DS foi concluído recentemente pelo pessoal da Southlogic. Batizado de "Imagine: Wedding Design", o game também é dirigido a garotas pré-adolescentes. Não é coincidência que os dois jogos desenvolvidos no país sejam voltados a meninas. Em geral, o universo do videogame é associado aos homens, mas a Ubisoft tem concentrado parte de seus esforços em jogos para o público feminino. 

 

Para o game que a empresa desenvolve em São Paulo, foi montado até um grupo de seis garotas que fazem as vezes de potenciais clientes e se reúnem periodicamente com o pessoal de marketing para dar opiniões sobre os rumos do jogo. 

 

A compra da Southlogic estende ao Brasil o movimento de aquisições que tem caracterizado o mercado global de jogos para videogame. Com custos cada vez maiores - os títulos mais ambiciosos superam orçamentos de US$ 20 milhões e equipes de 200 pessoas -, as grandes companhias do setor adquirem estúdios menores para ter acesso a produtos que, eventualmente, podem tornar-se um estouro de vendas. 

 

Maior editora de jogos eletrônicos da Europa, a Ubisoft encerrou o ano fiscal 2008, em março do ano passado, com uma receita de ? 928,3 milhões e lucro líquido de ? 12,4 milhões. A companhia disputa espaço com outros rivais de porte, como a Electronic Arts (EA), a Microsoft e a Activision Blizzard. Em alguns casos, além de comprar estúdios, as empresas partem para a aquisição de companhias cujas tecnologias podem sustentar novas fases de desenvolvimento dos jogos. A própria Ubisoft adquiriu recentemente a Hybride Technology, responsável pelos efeitos especiais de filmes como "300" e "Sin City". 

 

No Brasil, onde os jogos para consoles - um dos maiores filões do entretenimento digital - sofrem uma pesada carga tributária, o que eleva os preços e inibe o consumo, os estúdios têm se voltado para a exportação de serviços de desenvolvimento ou a criação de jogos para outros meios, como o telefone celular e a internet. 

 

Segundo a Abragames, que reúne as empresas brasileiras de jogos eletrônicos, o setor reunia 42 companhias em meados do ano passado, com 560 profissionais empregados. A estimativa da Abragames era de que as companhias encerrariam o ano com faturamento de R$ 87,5 milhões. Desse total, R$ 26 milhões viriam da criação de software. 

 

Em uma fase posterior, a Ubisoft pretende iniciar no Brasil um movimento para criar jogos para outros meios, além dos consoles, principalmente para a internet e telefones celulares como o iPhone, da Apple. Novas aquisições devem ocorrer no exterior este ano, mas a prioridade no Brasil será investir nos dois estúdios atuais, diz Chaverot. A expansão vai depender dos projetos seguintes, mas a companhia não terá dificuldades para contratar. "Na primeira seleção, recebemos 6 mil currículos", conta, espantado, o executivo francês. 

 

Veículo: Valor Econômico


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