Indústrias também estão estocadas

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A retração das encomendas do varejo fez com que a indústria também ficasse com excesso de estoques. Na Zona Franca de Manaus, mesmo com férias coletivas e demissões, não foi possível equilibrar a produção às vendas. "Os estoques estão elevados e parece que as encomendas, além de demorar, virão em volumes menores", diz Flávio Dutra, diretor-executivo das coordenadorias operacionais da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam). 

 

Apesar de as medidas de incentivo do governo federal já mostrarem algum impacto nas vendas de automotores em janeiro sobre dezembro - 6,55% de alta nos primeiro 15 dias -, Fernando Monteiro, economista-chefe da corretora Convenção, diz que os estoques continuarão elevados se mantido o atual ritmo de produção. "A não ser por uma improvável aceleração maior nas vendas, será difícil escapar de uma forte retração da produção neste trimestre." 

 

Outro setor que teve um empurrão nas vendas neste começo de ano foi o calçadista, que movimentou R$ 6 bilhões em negócios na Couromoda, feira realizada em São Paulo. O resultado, porém, não foi suficiente para desovar os estoques acumulados pela indústria desde novembro de 2008, quando o varejo parou as encomendas. Segundo Milton Cardoso, presidente da Abicalçados, a produção continua maior que as encomendas. O executivo, também presidente da Vulcabras, diz que um complicador para a recuperação das vendas tem sido a alta das importações. "A oferta de importados cresceu 48% em dezembro sobre 2007." A Vulcabras fechou o ano com estoque acima do ideal, mas manterá a produção no primeiro trimestre. 

 

O setor eletroeletrônico também está estocado. Pesquisa da Abinee mostra que 48% das empresas associadas estão com estoque acima do planejado, entre produtos acabados e insumos. "Há muito tempo não tínhamos um número tão expressivo", diz Humberto Barbato, presidente da entidade. Entre os produtos mais estocados estão celulares, computadores e material elétrico. 

 

Há, porém, quem ainda registre aumento nas vendas. É o caso da indústria de alimentos no Nordeste. As fábricas estão recebendo encomendas maiores do que em janeiro de 2008 apesar dos estoques mais carregados. "Se não fosse a crise, estaríamos vendendo ainda mais, por isso acabamos com mais produtos estocados", diz Frederico Dominguez, diretor-comercial da paraibana São Braz, fabricante de cuscuz e biscoitos que teve alta de 10% nas vendas. 

 

A Gratícia, que produz salgadinhos de milho em Pernambuco, registra em janeiro uma alta de 27% nas vendas. O sócio da empresa Paulo Lucatelli acredita que o efeito da crise é menor na região por conta do número de pessoas atendidas pelo Bolsa Família. A Sucos Jandaia, do Ceará, está com estoques 15% maiores que em janeiro de 2008, mas prevê fechar 2009 com alta de dois dígitos na venda de bebidas sobre 2008. "Até agora registramos alta de 12%", diz Luís Eduardo Figueiredo, diretor-comercial da Jandaia. A pernambucana Mill, que fabrica derivados de milho, teve um incremento de 3% em janeiro ante igual mês de 2008. 

 

A conquista de mais clientes no ano passado está garantindo aumento nas vendas este mês na Fresnomaq, fabricante de lavadoras de alta pressão e aspiradores de pó Wap. Em 2008 a empresa, com sede em São José dos Pinhais (PR), colocou em sua carteira de compradores mais 450 varejistas e cresceu 10%. Mas a alta foi menor que a prevista. "Crescemos, mas esperávamos mais", diz a diretora-comercial, Édla Pavan. 

 

Janeiro é período de transição de coleção na Recco Lingerie, de Maringá, Noroeste do Paraná, uma das maiores fabricantes de camisolas e pijamas do país. Por isso, Marcelo Recco, gerente-comercial, diz que é cedo para falar em encomendas. A empresa trabalha para vender 5% a 10% a mais no primeiro semestre. "Queremos ganhar mercado." Segundo ele, a Recco não alterou a qualidade para fazer peças mais baratas e encomendou mais tecido que no inverno passado. "Ainda não sentimos se vai ter mudança no comportamento de compras", diz. 

 

No Rio, alheia à crise, o grupo Suissa, fabricante de cosméticos e produtos de limpeza populares, está contratando e prevê crescimento neste ano. "Não tem crise nenhuma", diz Edison Aarnaud, sócio do grupo, que estima crescimento de cerca de 20% no faturamento nominal de 2009, apoiado no aumento da renda das classes C e D e ainda nos efeitos sobre o consumo do programa Bolsa Família. "As vendas estão muito boas e os pedidos estão acima do que estamos conseguindo produzir. Nossos estoques estão baixos." Para a consultoria MB Associados, o setor de higiene e beleza deverá manter-se bem ao longo deste ano. Números do setor indicam crescimento de 8,6% no faturamento de 2008. 

 

Veículo: Valor Econômico


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