Varejo aposta na volta dos carnês

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Mesmo com receio da alta da inadimplência, grandes redes focam no crediário para turbinar as vendas no fim de ano

 

Os carnês serão a principal aposta da Via Varejo para tentar turbinar as vendas neste fim de ano, mesmo com o crescente temor da inadimplência. A gigante brasileira que administra duas das maiores redes do setor no país – Pontofrio e Casas Bahia – montou uma agressiva estratégia para ajustar o foco no crediário, incluindo a implantação do sistema de boletos nas lojas Pontofrio, a marca da holding voltada para o público de renda mais alta.


A mudança começou para valer esta semana. Nos últimos dois meses, a Via Varejo reforçou equipes e orientou vendedores a intensificar a abordagem dos clientes para divulgar a novidade. Inclusive, na loja da Rua Curitiba, no Centro de BH, há cartazes informando sobre o meio de pagamento. Com a volta do crediário, as vendas já teriam aumentado cerca de 5% em todo o país.

Nas Casas Bahia, os carnês, considerados o DNA da marca, perderam espaço nos últimos anos, principalmente para as transações com cartões de crédito. Mas a meta é dobrar a participação dessa forma de pagamento, tornando-a responsável por 70% do volume de vendas. Hoje, na média nacional, esse índice não ultrapassa 40%.

O próprio presidente da Via Varejo, Francisco Valim, em recente reunião com funcionários da empresa, deixou claro que, daqui para a frente, a ordem é retomar a força dos carnês, muito mais rentáveis do que os cartões das marcas, emitidos em parceria com os bancos Bradesco (Casas Bahia) e Itaú (Pontofrio). A principal orientação consiste em reverter para os carnês, por meio das financiadoras próprias, toda e qualquer venda não aceita pelas instituições financeiras.

PAGAMENTO
Embora os clientes possam quitar os boletos pela internet ou em lotéricas, por exemplo, cerca de 80% dos consumidores optam por fazer o pagamento nas lojas, ampliando a possibilidade de novas compras a cada visita mensal. É também com base nessa estatística que a Via Varejo decidiu fazer as pazes com o crediário, ainda que, no fundo, exista um crescente receio quanto ao avanço da inadimplência. No Rio Grande do Sul, onde o índice de devedores chegou a ultrapassar os 50%, a rede Casas Bahia suspendeu os carnês por tempo indeterminado.

A investida da Via Varejo nos carnês coincide com um momento em que o Banco Central quer justamente o contrário: acelerar o processo de bancarização dos brasileiros, estimulando o uso dos cartões. Para a autoridade monetária, o dinheiro de plástico ainda é o símbolo da desejada inclusão financeira. Os cartões de débito e crédito, defende o BC, permitem a quem os utiliza maior praticidade e segurança.

A estudante Alana Melo da Silva só faz compras por meio dos carnês. “Tudo comigo é no carnezinho. E em até 18 vezes”, completa. Já a editora Deborah Moreira, que já usou o carnê muitas vezes, prefere agora juntar o dinheiro e comprar à vista. “Quando você compra no carnê, é preciso voltar à loja para pagar as parcelas, e então acaba comprando outros produtos porque está tudo ali, ao alcance das mãos”, explica.
 
JUROS Nas Casas Bahia de cidades menores, segundo a empresa, os pagamentos com carnês alcançam até 80% do total, o que ajuda a puxar a média para cima, mesmo que os juros sejam mais altos em relação a outros meios de pagamento. Um vendedor do Pontofrio ouvido pelo Estado de Minas explica que, para comprar um fogão que está na oferta por R$ 699, o cliente pode pagar em 10 vezes no cartão, sem juros. “Se optar pelo carnê, a taxa (de juros) é de 6,9% ao mês. No fim, a pessoa leva um fogão e paga dois”, calcula.

 A cabeleireira Nayara Rosa Fernandes utiliza tanto o cartão quanto o crediário para adquirir eletrodomésticos. “Prefiro o cartão, mas às vezes o limite não deixa, então uso o carnê”, observa, deixando claro que não sabia que os juros do carnê são mais caros. Já a a atendente Lucimar dos Santos não entra nessa conta. “Fujo dos carnês. Os juros são muito altos. Você compra uma televisão e paga pelo preço de umas três.”

A Via Varejo informou que por ser uma empresa de capital aberto (com ações na bolsa) não poderia confirmar expectativas ou detalhes de vendas. Disse, ainda, que os índices de inadimplência se mantêm na média no mercado. Sobre a inclusão dos carnês como forma de pagamento nas lojas Pontofrio, afirmou, em nota, ser objetivo da empresa “oferecer os melhores serviços com preços competitivos e condições especiais de pagamento”.



Veículo: Estado de Minas - MG


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