A empresa de shopping centers Sonae Sierra Brasil decidiu reavaliar a sua estratégia no país. Uma consultoria foi contratada para fazer "uma análise profunda" dos caminhos a serem tomados, segundo o presidente, José Baeta Tomás. Cinquenta por cento da companhia pertence ao grupo português Sonae, que em 2004 decidiu interromper os investimentos em supermercados no país após duras críticas do comando à economia local. A empresa tem participação em 10 empreendimentos, como o Plaza Sul, em São Paulo, e o Parque D. Pedro, em Campinas.
A empresa começou a rever ações de longo prazo, e isso pode passar por um reposicionamento de formatos dos shoppings e pela avaliação de locais para expansão geográfica, apurou o Valor. As chances de a empresa crescer por meio de fusões e aquisições, num mercado com preços dos ativos em alta, também fazem parte da análise. A consultoria estudou ainda o potencial de expansão do varejo no país e o risco de entrada de novos investidores, assim como os meios financeiros a que a empresa terá que recorrer para investir.
"É uma análise profunda da nossa estratégia a longo prazo no país" disse ontem Tomás em teleconferência com analistas, sobre os resultados do terceiro trimestre. Segundo apurou o Valor, as mudanças podem passar por um foco maior em empreendimentos para classes A e B. A empresa não detalhou as iniciativas, mas reforçou os planos de manutenção de investimentos no país. Ainda esclareceu que essa análise acontece após a entrega do último empreendimento, em outubro (Passeio das Águas Shopping, em Goiânia), previsto no programa de investimentos após a abertura de capital.
É uma movimentação que acontece num período em que a Sonae Sierra registra resultados considerados fracos por analistas. Relatório do J.P.Morgan sobre os números do terceiro trimestre ressalta que o período registrou uma das menores margens Ebitda da empresa desde a sua abertura de capital, em 2011, quando levantou R$ 478 milhões. A margem de lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda) caiu de 78% no terceiro trimestre de 2012 para 73,7% neste ano.
"Apesar do aumento de 8% na área bruta locável [própria] e o forte aumento nos aluguéis 'mesmas lojas' de 12,8%, a receita cresceu apenas 4%", afirmou o J.P.Morgan. "Como aconteceu com outras empresas, as vendas 'mesmas lojas' tiveram uma forte recuperação, atingindo 7% no trimestre, contra 4,4% no segundo trimestre, mas ainda uma das taxas mais baixas no setor". A venda da participação em três empreendimentos não estratégicos no fim de 2012 afetou o volume de receitas neste ano.
Analistas reforçam que a empresa deve se concentrar em melhorar os resultados operacionais (redução da vacância) de projetos novos para reduzir a diferença para os rivais. Analistas do Banco do Espírito Santo (BES) apontam em relatório que a empresa tem um risco relativamente maior por ter poucos shoppings no portfólio.
"Apesar do potencial de valorização, acreditamos que os investidores podem não estar dispostos a pagar esse preço até que a empresa comprove sua capacidade de investir o seu dinheiro em projetos rentáveis", informa. "Apesar de gostarmos [...] da Sonae, acreditamos que a empresa precisa ser mais agressiva em termos de perspectivas de crescimento e novos projetos", segundo relatório do BES. O material ressalta ainda a elevação na relação dívida líquida/ Ebitda, que atingiu 2,1 vezes em setembro, versus 1,64 em junho, por conta de investimentos que atingiram um "pico" neste ano.
"Permanecemos comprometidos em intensificar o desempenho de nossos shoppings em um ambiente de acentuada competição", informa relatório da Sonae Sierra.
Veículo: Valor Econômico