Perspectivas mais robustas para a atual safra externa de grãos e uma recuperação ainda morna da atividade econômica global estão mantendo as commodities agrícolas em queda no mercado externo no início do quarto trimestre, mas este alívio não deve evitar que a inflação de alimentos ao consumidor continue em patamar mais incômodo nos próximos meses, na avaliação de economistas.
Analistas apontam que uma nova tendência de depreciação da taxa de câmbio segue como fator de pressão sobre o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o que vai reduzir o potencial de ajuda das matérias-primas ao indicador. Do lado doméstico, há ainda a expectativa de que a sazonalidade mais desfavorável dos produtos in natura, com o começo da época das chuvas, vai contribuir para a manutenção dos preços de alimentos em níveis elevados nos últimos meses do ano e também no início de 2014.
O CRB alimentos - índice que mede a variação de um grupo de commodities agropecuárias no mercado internacional - recuou 4,5% em dólares e 4,1% em reais, nos cálculos de Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho do Brasil em outubro na comparação com setembro. No mesmo período, um grupo de matérias-primas agropecuárias acompanhado pelo Banco Central dentro do Índice de Commodities - Brasil (IC-Br) cedeu 2,83%.
Enquanto, no mercado externo, o cenário para as commodities até 2014 é de relativa estabilidade, já que oferta e demanda caminham para um patamar de equilíbrio, Rostagno avalia que os preços de alimentos e outros bens comercializáveis tendem a subir ao menos até o primeiro trimestre do próximo ano no mercado interno com a influência da continuidade da valorização do dólar.
"A normalização da política monetária nos Estados Unidos é uma questão de tempo. Seja em janeiro ou abril, isso vai acontecer no primeiro semestre de 2014, o que manterá o câmbio pressionado", afirma o economista, para quem a cotação da moeda americana pode chegar a R$ 2,50 quando o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) começar a reduzir seu programa de estímulos monetários.
Fabio Romão, da LCA Consultores, projeta que os produtos agrícolas vão entrar no campo negativo nos índices do atacado este mês, com deflação de 0,05% na leitura de novembro do Índice Geral de Preços -10 (IGP-10), da Fundação Getulio Vargas (FGV). Já o grupo alimentação e bebidas que compõe o IPCA deve mostrar aceleração média mensal de 0,80% nos próximos três meses, segundo as estimativas da LCA.
Romão explica que o descompasso previsto para o comportamento dos alimentos ao produtor e ao consumidor nos próximos meses ocorre devido à composição da inflação nestes dois segmentos. Nos índices do varejo, os itens in natura têm peso bem maior e costumam subir bastante nesta época do ano, diz o economista. Ele menciona que, em outubro, o tomate saltou 48,7% no Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) e, mesmo assim, a alta dos produtos agropecuários no IGP-DI cedeu de 2,04% em setembro para 0,42%.
Uma cesta de produtos agrícolas acompanhada pela GO Associados no mercado doméstico avançou 0,9% na primeira semana de novembro, na comparação com a semana anterior. Para Fabio Silveira, diretor de pesquisa econômica da consultoria, esta variação pode ter ocorrido devido a fatores climáticos internos, já que foi puxada por itens como batata, tomate e laranja.
No médio prazo, Silveira afirma que os fundamentos para as commodities agrícolas são de retração, dado que a reação da atividade global ainda é frágil e os estoques de grãos devem aumentar. A despeito do cenário mais tranquilo para estas matérias-primas, ele comenta que há pressões relevantes no horizonte inflacionário brasileiro, com destaque para a taxa de câmbio mais próxima de R$ 2,30. "O Banco Central deve impedir uma desvalorização muito acentuada do real, mas de todo modo vemos a inflação rodando entre 5% e 6% até 2014", previu, com alta entre 6,5% a 8,5% na parte de alimentos.
Veículo: Valor Econômico