Danone testa lucro na Bahia

Leia em 3min 20s

A Danone pretende dar início em até três anos à venda direta de iogurtes no Brasil. O novo modelo porta a porta será focado no Nordeste, onde a multinacional francesa enfrenta dois obstáculos para expandir suas operações: o baixo consumo per capita de iogurtes e a dificuldade de acesso aos pequenos pontos comerciais, as lojinhas de rua onde a maior parte do comércio se dá nessa região do país.

Sem fazer alarde, a Danone, que lidera o mercado de iogurtes no país, vem testando desde 2011 a estratégia em Salvador (Bahia), no âmbito de um projeto-piloto batizado de "kiteiras", que deve ser expandido para outras cidades do Nordeste.

Na primeira fase do projeto, 300 mulheres consideradas "socialmente vulneráveis" foram capacitadas por uma organização não governamental (ONG) - a Aliança Empreendedora, com sede em Curitiba - para vender kits de iogurte a vizinhas, parentes e amigas. O resultado foi surpreendente: juntas, elas alcançaram a média de 40 toneladas de iogurte por mês, ou o equivalente a 400 mil unidades.

"Saímos do zero para 40 toneladas com esse programa. Era um resultado que esperávamos apenas um ano depois", disse ao Valor a diretora de sustentabilidade da Danone, Adriana Matarazzo. "Agora estamos validando o modelo para ter certeza que é sustentável", acrescentou.

Nos próximos dois anos, a Danone Brasil tentará ampliar o número de "kiteiras" para 400 e atingir 70 toneladas de iogurte vendidas por mês. Além disso, a empresa pretende que elas mudem a maneira como veem os kits - de algo que proporciona uma renda complementar e permite horários flexíveis para a principal atividade de geração de renda.

Para atingir isso, a gigante de lácteos fechou parcerias com outras duas ONGs, a Move e a Véli RH, na tentativa de recrutar e formar uma rede de microempreendedoras de venda porta a porta da Danone. A ideia é estender a iniciativa ao Nordeste. Fortaleza e Recife estão no radar da companhia.

Cautelosa, a filial brasileira prefere colocar os verbos ainda no modo condicional. Uma grande preocupação da empresa é a manutenção dessas mulheres para que o projeto perdure. A Danone não é a primeira a fazer isso - além da precursora Yakult, a Nestlé já faz vendas porta a porta há algum tempo.

A própria Danone tentou, no passado, fazer vendas diretas de lácteos, sem sucesso. Desta vez, a filial brasileira juntou um plano de negócio à sua cartilha social para acrescentar a inclusão de uma parcela da população carente às suas vendas. Para ser candidata a uma "kiteira" é preciso estar necessariamente no sopé da pirâmide social.

"A proposta do Projeto Kiteiras é impactar mulheres da base da pirâmide social da região Nordeste, como mães solteiras e donas de casa, de meia idade", explica Adriana. De acordo com a executiva, o projeto alavancou em 35% a renda mensal das mulheres envolvidas.

Outra preocupação é fazer com que o projeto se sustente sozinho, sem que a Danone tenha que injetar recursos a perder de vista. Até agora, foram € 400 mil (aproximadamente R$ 1 milhão) apenas na primeira fase. O dinheiro veio do Fundo Ecosysteme, um de quatro fundos globais da Danone que apoiam projetos relacionados a emprego e microempreendedorismo. Na segunda fase, que se inicia agora, serão mais € 700 mil.

Com faturamento de R$ 2 bilhões em 2013 - o dobro quando comparado ao de 2009 -, a meta da Danone é dobrar de tamanho a cada quatro ou cinco anos no Brasil. Para isso, além de ampliar o portfólio e tornar os preços de seus produtos atraentes, é preciso estimular o brasileiro a consumir mais iogurte. Segundo a empresa, o consumo no Nordeste ainda é a metade da média nacional.

"O Nordeste sempre foi difícil [em vendas] para a gente", afirma Adriana. "Precisamos de parceiros comerciais para acessar o pequeno varejo, estratégico para no Brasil". Com o "kiteiras", a Danone pretende conseguir um feito no país.



Veículo: Valor Econômico


Veja também

Futuro de refrigerantes diet é ameaçado nos EUA

Joanna Stepka é o novo pesadelo da indústria de refrigerantes nos Estados Unidos. A americana de 33 anos ...

Veja mais
Campanha De Olho na Validade começa hoje no Paraná

      A Associação Paranaense de Supermercados (Apras) assina hoje junto ao ...

Veja mais
Setor de embalagens flexíveis crescerá 2% em 2013

A Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief) projet...

Veja mais
Leite: setor poderá receber parceladamente mais de R$ 1 bilhão em créditos acumulados de PIS e de Cofins pagos antecipadamente ao governo

Após um ano de preços altos, a cadeia produtiva do leite recebeu ontem um presente de fim de ano. O setor ...

Veja mais
Drogarias da Coop ultrapassarão a previsão inicial

A Cooperativa de Consumo (Coop) aposta na venda de medicamentos em suas farmácias e drogarias para expansã...

Veja mais
Crescem as vendas de celular em mercados e lojas de departamentos

As operações de supermercados, hipermercados, lojas de departamentos e e-commerce ganharam destaque nas ve...

Veja mais
Mobilidade urbana e cenário logístico

Victor Simas é presidente da Confederação Nacional das Revendas Ambev e das Empresas de Logí...

Veja mais
IBGE: safra de grãos em 2014 será de 186 mi de toneladas

A safra brasileira de grãos em 2014 deve repetir o bom resultado da safra de 2013, de acordo com o segundo Progn&...

Veja mais
Farmax projeta faturamento 18% maior em 2013

Para 2014, previsão é de um crescimento de 25% Com sede e planta em Divinópolis (região Cen...

Veja mais