Os dados do varejo de outubro evidenciam que, na média, o consumo arrefeceu. Ao mesmo tempo, os números da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que depois de se endividar comprando automóveis, móveis e até mesmo a casa própria, o brasileiro segue com fôlego para consumir as chamadas miudezas. As vendas de itens como perfumaria, brinquedos, artigos para a casa, que não dependem necessariamente de concessão de crédito, continuam fortes ou ganharam relevância recentemente.
Segundo o IBGE, em 12 meses, o consumo de itens como perfumaria e artigos de uso pessoal e doméstico têm altas muito superiores à média do varejo, de 10,9% contra 4,5%. Segmentos como materiais de construção civil (alta de 7% em 12 meses) e eletrodomésticos (8,6%), embora com crescimentos menores, também mostram a disposição de consumir produtos para casa. Esses dois últimos talvez tenham uma dependência maior do crédito, mas não se compara a um financiamento de automóvel, por exemplo.
Outro dado que chama atenção é que as chamadas "miudezas" aumentaram sua importância dentro do varejo. De acordo com o IBGE, o segmento "outros artigos de uso pessoal e doméstico" respondeu por 23% no desempenho do varejo restrito em outubro, ante o mesmo período do ano passado. Se tomar o varejo ampliado, essa participação salta para 30,8%. Em outubro de 2012 sobre outubro de 2011, esses percentuais eram de, respectivamente, 12,9% e 5,1%. Em outubro de 2011 na comparação com o mesmo período em 2010, eram de 0,7% e 1,3%.
Tais segmentos não mudam o cenário de desaceleração do varejo em geral, mas de certa forma têm contribuído para manter o setor no positivo há oito meses consecutivos. Em outubro, as vendas no varejo cresceram, mas desceram mais um degrau na escada. O aumento de 2,1% no conceito restrito em julho virou 0,2% em outubro. Em 12 meses, a escala é descendente desde o pico de novembro de 2012, quando a elevação das vendas chegou a 8,54%. Em outubro, estava em 4,48%
Nesse meio tempo, se de um lado o IPI de automóveis e eletrodomésticos seguiu reduzido e o governo lançou o Minha Casa Melhor para subsidiar a compra de bens duráveis para os beneficiários do Minha Casa, Minha Vida, de outro, a inflação arrefeceu, mas persistiu, e o aumento real da renda dos trabalhadores diminuiu.
O governo tem dito que a maior restrição de crédito é responsável pela desaceleração do consumo, o que pode ter sua parcela de verdade. Mas as famílias estão endividadas, pagando prestações após comprar bens caros como automóveis, eletrodomésticos e mesmo a casa própria. Além disso, no próprio governo, após alerta de agências de rating, a orientação é fazer menos repasses aos bancos públicos para estimular a concessão de crédito. Em recente entrevista, o presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, disse que o crédito da instituição ao consumo vai crescer menos em 2014. Neste cenário, o varejo pode continuar dependendo das miudezas para crescer.
Veículo: Valor Econômico