Se as mudanças estruturais e a conjuntura adversa preocupam as indústrias de suco e motivam mudanças estratégicas em sua atuação, para os produtores de laranja o quadro é mais complexo e desalentador. Em número progressivamente menor e poder de barganha cada vez mais restrito, a grande maioria dos citricultores não consegue pela fruta os preços que considera justos e, ao mesmo tempo, vê os custos de produção aumentarem com insumos mais caros e doenças nos pomares.
Em São Paulo, que reúne o maior parque citrícola do mundo - 150,4 milhões de árvores em produção nesta safra 2008/09, segundo o Cepea/Esalq -, as duas associações que representam os produtores (Associtrus e Faesp) reclamam que as indústrias estão mais inflexíveis nas negociações de preços de fornecimento da fruta. Eles dizem que depois que a Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça aprofundou as ainda indefinidas investigações sobre um suposto cartel entre as indústrias do segmento, a partir de 2006, as relações pioraram. Até a Associação Brasileira dos Exportadores de Cítricos (Abecitrus), que reunia as companhias, simplesmente deixou de existir no ano passado.
Com isso, a citricultura não pára de perder adeptos. A Associtrus (Associação Brasileira dos Citricultores) estima que o número de produtores em São Paulo já caiu de 27 mil, em 1990, para menos de 10 mil. O fato de as próprias empresas terem elevado a produção própria em suas fazendas nos últimos tempos também mudou a relação de forças. Até 2006, a Associtrus calculava que as indústrias vinham plantando cerca de 2 milhões de pés por ano no Estado, e de lá para cá a média aumentou.
A Cutrale, por exemplo, tem mais de 40 fazendas espalhadas pelo interior de São Paulo; em Iaras, no interior paulista, a Citrosuco tem a maior de suas fazendas, com 10 milhões de pés (a maior do mundo). Citrovita e Louis Dreyfus têm a mesma estratégia. Com isso, estima-se que as indústrias cubram mais de 30% de sua demanda com frutas próprias.
Outro terço ainda vem dos contratos de longo prazo, muitos dos quais expiram agora, já que a safra 2008/09 termina "oficialmente" em 31 de janeiro. Margarete Boteon, pesquisadora do Cepea e uma das maiores especialistas do segmento no país, diz que os contratos de longo prazo em vigor variam muito - envolvem desde valores em torno de US$ 3 por caixa até R$ 14. Mas, segundo ela, o maior problema está no mercado spot, onde as indústrias completam suas compras: neste, a caixa não passa de R$ 7, apesar da queda da safra estadual. Segundo o Instituto de Economia Agrícola (IEA) da Secretaria da Agricultura de São Paulo, a produção de laranja ficou em 360 milhões em 2008/09, mas, no mercado, poucos acreditam em volume superior a 310 milhões.
Marco Antonio dos Santos, presidente do Sindicato Rural de Taquaritinga e coordenador da mesa diretora de citricultura da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp), está preocupado com a iminente rodada de renegociações dos contratos de longo prazo. "Haverá muitos contratos em aberto e será difícil manter os valores, que, em muitos casos, já não eram remuneradores". Com insumos ainda caros e o necessário combate a doenças como greening e cancro cítrico, Santos estima os custos acima de R$ 10 por caixa.
Alento mesmo, só o novo seguro contra greening e cancro que será lançado na quinta-feira pelo governo paulista, o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) e a Porto Seguro. Para os citricultores, é muito bem-vindo. Mas é pouco. (FL)
Veículo: Valor Econômico