Confecções focam em roupa mais barata

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As passarelas do São Paulo Fashion Week mostraram que o cinza, o preto e o azul serão as cores do inverno. Mas, mais do que atentar aos tons sombrios da estação, as indústrias têxteis estão preocupadas em lançar peças que caibam no bolso do consumidor. Entre as confecções, a tendência agora é produzir modelos mais econômicos, que combinem com a crise econômica mundial. "Um produto mais barato estimula a renovação do guarda-roupa", afirma Ivan Bezerra Filho, conselheiro da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) e sócio da fiação cearense Bezerra de Menezes. 

 

Essa é a expectativa, por exemplo, da confecção infantil catarinense Brandili. O gerente comercial Germano Costa disse que a empresa decidiu ampliar a gama de produtos, incluindo roupas de menor valor. Se no inverno passado as peças variavam de R$ 20 a R$ 30, neste ano elas vão de R$ 17,50 a R$ 35. "A estratégia já deu alguns sinais de melhora nas vendas", diz Costa, afirmando que em fevereiro a empresa deve vender pelo menos 20% mais em relação a fevereiro de 2008. "Neste mês também estamos com o estoque mais equilibrado do que em janeiro", destaca. Em janeiro, as vendas caíram cerca de 15% em relação ao mesmo mês do ano passado. A Brandili fechou 2008 com aumento de 21,6% no faturamento e tem previsão de crescer 20% em 2009. 

 

A pernambucana Rota do Mar, do polo têxtil de Caruaru, optou por lançar duas marcas mais populares, cujos preços são metade dos cobrados na mesma estação no ano passado. "Queremos dar ao cliente todas as opções", afirma Arnaldo Xavier, sócio da Rota do Mar, que faz 120 mil peças por mês. Com os lançamentos, ele acredita que encerrará 2009 com vendas 18% superiores às de 2008. 

 

A Tavernit, que fabrica e lava jeans em Toritama (PE), também está em busca de calças mais baratas. "Precisa ser algo bonito e novo, mas com um preço menor", diz a sócia Maria José da Silva. O preço médio da peça mais barata caiu de R$ 40 para R$ 28, o que, segundo ela, deve elevar as vendas neste ano em 30%, apesar da queda de outros 30% ocorrida no ano passado. 

 

A tendência também pode ser vista em grifes que concorrem em faixas mais altas de preços. A próxima coleção da UMA, que foi apresentada no São Paulo Fashion Week, chegará ao consumidor com valores 24,5% menores do que a do inverno de 2008. O preço médio da coleção feminina da marca, que no ano passado foi de R$ 439,97, caiu para R$ 331,93. A empresa conta que a redução foi resultado de boas negociações com fornecedores. 

 

Para conseguir derrubar os preços, as companhias estão se reinventando. De acordo com o consultor organizacional Nelson Jorge Leite, de Santa Catarina, o setor de vestuário tem dedicado atenção à reengenharia dos produtos, diminuindo custos de fabricação e, consequentemente, seu valor final. "Alguns produtos, que tinham determinados adereços, estão perdendo itens", explica. Com isso, o objetivo é reduzir custos e preços simultaneamente, de forma que a queda do valor do produto não interfira na rentabilidade. 

 

Leite explica que isso faz parte de uma estratégia para as empresas manterem suas fatias de mercado mesmo na crise. "Em parte é o varejo que está determinando a necessidade de produtos de menor preço, mas existe também uma estratégia das próprias indústrias de sustentação do mercado que conquistaram nos últimos anos", diz, acrescentando que a indústria está revendo custos e preferindo ser mais contida nos preços por conta da necessidade de caixa, em um momento de crédito mais caro e escasso. 

 

Não é apenas no bolso mais apertado da clientela que os fabricantes estão de olho. Alguns enxergam a oportunidade de expandir as vendas diante do encarecimento das importações com a desvalorização do real. Segundo cálculos da Abit, cerca de 30% do consumo brasileiro é alimentado por produtos feitos no exterior, cenário que pode mudar agora, com as importações dando os primeiros sinais de recuo. 

 

"Os produtos importados têm menor valor agregado, por isso faz sentido fabricar itens mais baratos nesse momento, para ocupar o espaço deixado pelos chineses", explica Fábio Pinheiro, diretor da tecelagem cearense Unitêxtil. 

 

Nem todas as indústrias, porém, estão confiantes no movimento de redução de preços. O presidente da Buettner, João Henrique Marchewsky, diz que o mercado interno está bastante retraído. "Acredito que no geral o mercado interno vai reduzir o volume de compras este ano", diz. Mesmo assim, a estratégia de preços da Buettner não deverá mudar. A empresa está mantendo os patamares de preços do ano passado, ainda que a pressão do varejo seja por condições melhores. "Estamos vendo a inadimplência crescer e ainda há pouca liquidez para o crédito", observa. "Sei que muitas empresas estão baixando os preços para liquidar estoques, mas esse movimento deve ser passageiro porque haverá novas pressões nos custos nos próximos meses, como aumento de energia e custo da mão-de-obra." 

 

Para o diretor de exportação da Teka, Marcello Stewers, existe um recuo de preços mais generalizado no mercado externo, promovido pelos asiáticos, principalmente por conta da retração do consumo nos Estados Unidos. No mercado interno, ele diz que vê algum movimento de queda de preços, mas ainda não o considera forte. "Alguns concorrentes estão empurrando o preço para baixo no Brasil, mas vamos manter nossos preços. Não entramos nesta guerra porque uma hora você pode não aguentar", afirma ele, acrescentando que muitos custos ainda estão subindo neste momento, como o de produtos químicos. 

 

O presidente do Sindicato das Indústrias Têxteis do Vale do Itajaí (Sintex) e diretor de exportação da Hering, Ulrich Kuhn, acredita que uma baixa de preços neste momento no varejo esteja relacionada com o período de liquidações e diz que ainda não vê uma política generalizada mais agressiva de preços mais baixos. Nem mesmo crê que essa será uma tendência nas próximas coleções. "Em situações pontuais pode estar ocorrendo, especialmente nas indústrias que atendem grandes varejistas, mas no geral não vejo mudanças", afirma ele, acrescentando que na Hering esse movimento não está ocorrendo. 

 

Veículo: Valor Econômico


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