A Vitopel, empresa produtora de filmes flexíveis biorientados, desenvolveu um papel sintético produzido com plásticos reciclados. O projeto foi realizado em parceria à Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e contou com aporte da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
O produto utiliza a tecnologia dos filmes de polipropileno biorientado (BOPP) - filmes plásticos muito usados em rótulos e embalagens de biscoitos, salgadinhos, entre outras aplicações -, porém contém diferentes tipos de polímeros em sua composição, feitos à base de plástico reciclado.
Mas nem bem foi lançado e o papel sintético já começa a gerar polêmica dentro do setor de papel e celulose, após a divulgação equivocada de que cada tonelada do produto evitaria a derrubada de 30 árvores, por não utilizar celulose em sua composição.
De acordo com o presidente da Vitopel, José Ricardo Roriz Coelho, o projeto será um marco para o setor, pois o "plástico descartado ganhará um destino nobre". O executivo explica que o papel sintético, que tem aspecto similar ao do papel couché, é de excelente qualidade, tem maior durabilidade que o papel comum, pode ser reciclado inúmeras vezes e é resistente à umidade.
O papel sintético, que pode ser produzido a partir de garrafas descartadas, embalagens, frascos plásticos usados, entre outros, conquistou uma patente depositada em nome dos três parceiros envolvidos: Vitopel, UFSCar e Fapesp. Segundo Roriz, o papel sintético não vai substituir o papel comum. "Não temos essa intenção, pois o produto vai atuar como complementar ao papel comum, sendo mais uma opção no mercado", avaliou.
A Vitopel tem a intenção de lançar o produto comercialmente até abril, assim que algumas etapas forem cumpridas, incluindo a criação de uma cadeia de fornecimento da matéria-prima (o plástico descartado). Até lá, os envolvidos no projeto definirão o preço com o qual deve chegar ao mercado. Roriz acredita que o valor venha a ser similar ao quilo do papel comum.
A professora Sati Manrich , associada do Departamento de Engenharia de Materiais da UFSCar, acrescenta que o preço será competitivo, mas lembra que o que reduz o custo é escala de produção. "Quanto maior o mercado, menor o preço. Dependerá da receptividade", disse.
Segundo Roriz, a empresa empregará o papel sintético na produção de rótulos, fibras adesivas e catálogos. O executivo aposta que os setores de rótulos e impressão terão maior aceitação do produto, que atenderá ainda aos segmentos gráfico, de etiquetas, publicidade (banners e outdoors) e outros.
A Vitopel estima que em um ano sejam produzidas 10 mil toneladas, sendo que a capacidade total da empresa é de 150 mil toneladas por ano.
Depois da polêmica do lançamento, o gerente técnico da Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP), Afonso Moura, voltou atrás e disse que o material não é papel. "Trata-se de uma lâmina de plástico, porque papel é feito a partir de fibra de celulose.". Quanto ao apelo de sustentabilidade, Moura explica que o material contribui com o meio ambiente, uma vez que o plástico demora 400 anos para se decompor e o produto proposto utiliza plástico reciclado em sua composição. "Mas isso não significa que serão cortadas menos árvores", afirmou Moura.
Veículo: Gazeta Mercantil