Tendência de desvalorização do real em relação ao dólar aumenta as expectativas dos empresários para 2015
Em meio a um período de incertezas em quase todos os ramos da economia brasileira, a indústria calçadista prevê, para o fim do ano e, principalmente, para 2015, a retomada do setor. Ainda que a produção nos primeiros nove meses de 2014 tenha caído 4,5% em relação ao mesmo período de 2013, setembro registrou a primeira alta mensal em relação ao ano anterior, crescendo 4,8%, segundo o IBGE, e demonstrando os primeiros sinais de recuperação da indústria. Agora, a desvalorização do real e a briga pela manutenção de medidas protecionistas dão a tônica para visões um pouco mais otimistas do setor, demonstradas ontem, na abertura da Feira Zero Grau, em Gramado.
“Para o sapato, sem dúvida nenhuma 2015 marcará a retomada, ainda que mais comedida. Em 2014, mesmo que muita gente esteja reclamando, o que vemos é que não tiveram crescimento, ficaram estagnados, mas ninguém deixou de vender”, comentou Frederico Pletsch, diretor da Merkator Feiras e Eventos, organizadora da Zero Grau. Ele argumenta que o momento é muito bom para os lojistas, pois o nível de estoque das indústrias seguiria alto pelo desaquecimento das vendas no primeiro semestre. “Além disso, quem tinha cacife, as fábricas maiores, segurou as vendas em busca de um melhor preço que começa a surgir agora”, agrega.
Mesmo que o Brasil hoje represente apenas 1% do total de calçados vendidos ao mercado internacional, segundo o relatório Brasil Calçados 2014, a atual tendência de desvalorização do real em relação ao dólar também aumenta as expectativas da indústria em relação às exportações. “A variação agora está boa para nós, o empresário está entusiasmado, mas também não dá para contar muito com isso, pois o câmbio sobe e desce por questões políticas”, disse Pletsch.
Já o presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, acredita que, caso a tendência de desvalorização da moeda se confirme, as fábricas brasileiras possam recuperar um pouco do terreno perdido após a crise de 2008, quando vendia quase US$ 2 bilhões ao exterior. Em 2013, o valor das exportações brasileiras ficou em US$ 1,1 bilhão. Atualmente, EUA, Argentina e França lideram as exportações brasileiras de calçados.
Uma das principais frentes encampadas pelo setor, porém, diz respeito ao mercado interno. O decreto anti-dumping contra a entrada de calçados chineses no Brasil, instaurado em 2010 e que criou uma sobretaxa de US$ 13,85 a cada par além dos 35% normais sobre importações, termina no dia 5 de março. Segundo Klein, a Abicalçados protocolou no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), no último dia 31, um estudo de mercado para solicitar a manutenção da medida. Agora, o órgão federal tem até o vencimento do decreto atual para decidir se aceita o processo e iniciar uma investigação técnica, que pode levar de 10 a 12 meses. Enquanto não houver decisão, porém, a sobretaxa atual continua em vigor.
“Não podemos arriscar o que será decidido, pois nem conhecemos os ministros que integrarão a Câmara de Comércio Exterior no próximo governo, mas temos segurança de que temos indícios fortes que configurem o dumping e comprovem o fato”, afirmou Klein, que prevê uma decisão apenas no início de 2016. Nos primeiros oito meses de 2014, as importações da China representaram 44,3% dos pares trazidos ao Brasil, volume menor do que os comprados do Paraguai, que atingiram 46,5% das importações.
A Zero Grau, que se estende até amanhã, reúne, neste ano, 285 expositores, totalizando 900 marcas, em uma área vendida 11% maior do que a do ano passado. Com fluxo de cerca de 1,8 mil lojistas do País e outros 200 importadores, a organização espera que a feira encaminhe a comercialização de 30% da produção brasileira no primeiro semestre de 2015.
Veículo: Jornal do Comércio - RS