O Brasil é o sexto maior mercado para as bebidas em cápsulas Nescafé Dolce Gusto e pode se tornar o principal em cinco a dez anos, disse ao Valor o líder da Nestlé nas Américas, Laurent Freixe. A empresa lançou ontem a pedra fundamental da primeira fábrica da marca fora da Europa, em Montes Claros (MG). O Brasil é o maior produtor e o segundo maior consumidor de café do mundo.
A companhia vai investir R$ 200 milhões na instalação, que vai abastecer o mercado doméstico e a América Latina, disse o presidente global da Nestlé, Paul Bulcke, em entrevista na sede da empresa no Brasil, em São Paulo. A fábrica será construída em uma área de 9,7 mil m2, ao lado de uma unidade da empresa que faz leite condensado. A companhia tem 31 unidades fabris no país.
A Nescafé Dolce Gusto foi lançada em 2006 e é uma das marcas da Nestlé com vendas globais superiores a 1 bilhão de francos suíços. No Brasil, chegou em 2009. "A construção de uma nova fábrica de Dolce Gusto no Brasil é uma expressão da capacidade do país para gerir essa tecnologia de ponta, está ligado ao abastecimento de café verde e também mostra que esse produto vai bem no Brasil e no continente", disse Bulcke.
O mercado de café em doses individuais cresceu 46% no Brasil no ano passado, segundo a Nielsen. A Dolce Gusto é líder nesse mercado. A marca também tem cápsulas de chás quentes e frios, cappuccinos e chocolates.
Bulcke disse que o sistema Nespresso também vai muito bem no país. "São marcas complementares, que não competem uma com a outra. Esperamos que talvez tenhamos tantas razões para investir que investiremos", afirmou o executivo, quando perguntado sobre a possibilidade de fabricar as cápsulas da Nespresso no país.
"Estamos com uma família de produtos muito boa no Brasil, e cada um tem a sua dinâmica. Estamos investindo em todas as dimensões, porque não podemos depender de uma coisa só", disse Bulcke, citando diversos alimentos e bebidas da companhia, como cápsulas de nutrição infantil, achocolatados, águas e chocolates. Em 2013, a Nestlé teve receita US$ 5,7 bilhões no Brasil.
Sobre os negócios em outras partes do mundo, Bulcke observa que na Rússia, onde a Nestlé tem uma operação forte de café, este produto "vai sofrer com um rublo que vale a metade, mas temos que passar por isso". A Rússia é o maior consumidor de café solúvel do mundo. A companhia tem fábricas de diversas categorias no país, incluindo uma unidade de Nescafé, para atender o mercado interno e países vizinhos.
Em relação aos Estados Unidos, o CEO afirmou que "a América do Norte está ganhando um pouco de motivação, mas ainda temos que ver isso claramente refletido nas cifras". O continente europeu, que abriga a sede da empresa suíça, também vai mal. "Agora fala-se muito em risco de deflação. Mas eu acho que a longo prazo é um continente que tem muitos argumentos. E, apesar de todos os problemas, a Nestlé sempre cresceu lá". Mesmo os mercados emergentes desaceleraram.
Nos primeiros nove meses deste ano, a receita global da Nestlé caiu 3% em relação a igual período de 2013, para 66,2 bilhões de francos suíços (US$ 70,1 bilhões). O crescimento orgânico, que exclui o impacto de variações cambiais, aquisições e alienações, foi de 4,5%. Em outubro, Bulcke informou que espera terminar o ano com expansão orgânica ao redor de 5%.
Veículo: Valor Econômico