Conab, Farsul e consultores projetam uma safra maior no Rio Grande do Sul, além de preços e mercados estáveis para os produtores
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta uma safra de 29,1 milhões de toneladas para a safra do Rio Grande do Sul em 2014/15, alta de 1,6% na comparação com o ano passado. Ou seja, a segunda maior da história, atrás apenas de 2012/13, quando foram colhidas 29,7 milhões de toneladas. A área plantada também segue em crescimento, podendo atingir 8,6 milhões de hectares. A Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) aposta na mesma área que o órgão federal, mas acredita em uma safra de 31,6 milhões de toneladas, o que representaria um recorde para o Estado.
A expectativa de bom desempenho é alavancada por uma cultura em especial: a soja. A oleaginosa apresenta no Rio Grande do Sul um quadro similar ao observado no restante do Brasil, com crescimento, sempre segundo a Conab, em área (4,1%), produtividade (2,8%) e produção (7,1%). Com isso, se o clima não for adverso, a colheita seria de 13,7 milhões de toneladas. O avanço se dá, principalmente, nas regiões da Metade Sul e na Fronteira Oeste, onde, de acordo com o superintendente regional da Conab, Glauto Melo Júnior, ocupou mais 75 mil hectares no plantio que está sendo finalizado.
A rotação em cultura de arroz, na várzea, reforçada nos últimos quatro anos, ajudou a intensificar o cenário em questão. Mas o ganho acontece, inclusive, em locais de campo nativo e sobre outras culturas de verão. Com isso, o milho terá a menor área plantada desde o começo da série histórica de acompanhamento do governo federal, iniciada em 1977, com apenas 980 mil hectares. A produção do grão deve girar, então, na casa das 5 milhões de toneladas, abaixo da demanda do Estado, que, em 2015, passará da linha das 6,5 milhões de toneladas. Restará à indústria gaúcha importar o restante do Paraná, na maior parte, mas também do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Para o analista Carlos Cogo, da Consultoria Agroneconômica, o processo é irreversível até mesmo em longo prazo e pode ser explicado por apenas um fator: rentabilidade. “Não tem saída. O produtor coloca as planilhas lado a lado, e o resultado da soja é melhor em todos os aspectos”, afirma. O sojicultor viu seu lucro cair para R$ 741,00 (-51%) por hectare em 2014. Mesmo assim, os valores são muito superior aos do milho, que rendeu apenas R$ 172,00 por hectare em média. “Com todo o tombo do preço da soja, ela ainda deixa ganhos maiores e terá preferência em 2015. Não fosse a área de agricultura familiar que persiste, principalmente no Norte e Nordeste do Estado, o milho nem chegaria a esses 900 mil hectares no próximo ano”, pondera Cogo.
Os preços das principais commodities despencaram no mercado internacional, pelo menos, até agosto de 2014, devido à supersafra norte-americana. O preço do bushel da soja, por exemplo, baixou do patamar de US$ 10,00 em Chicago, centro balizador da comercialização. Apesar disso, em setembro, outubro e novembro, segundo Cogo, a recuperação foi, em média, de 11%. Portanto, a tendência é de que em 2015 haja estabilidade, ainda com a China, provável destino de 70% da produção brasileira, concentrando o aumento da demanda mundial de grãos. A vantagem do produtor brasileiro é que os insumos foram comprados com o dólar a R$ 2,22, em média, enquanto as vendas serão balizadas com a moeda entre R$ 2,55 e R$ 2,60 se as perspectivas de alta se manterem.
Estabilidade do arroz é exemplo para outras cadeias produtivas
A umidade durante a primavera encurtou o período de plantio do arroz. O início da janela foi considerado o pior dos últimos cinco anos e assustou os produtores que não conseguiam entrar com as máquinas no campo. Mas o clima melhorou e, na segunda semana de dezembro, o cultivo estava 2% acima do observado no mesmo período do ano passado. O Instituto Riograndense do Arroz (Irga) estima, então, uma área final de 1,1 milhão de hectares, praticamente a mesma de 2013/14. A produção, uma vez confirmadas as boas projeções climáticas, será de até 8,4 milhões de toneladas. A produtividade média deve ser de 7,5 mil toneladas por hectare.
Um dos catalisadores do bom momento é a rotação de cultura com a soja, que cada vez mais ocupa espaços de várzea. A expectativa é de 320 mil hectares da oleaginosa cultivados em terras orizícolas. De acordo com o diretor técnico do Irga, Rui Ragagnin, a prática é incentivada por melhorar as condições do solo e, consequentemente, a produtividade, além de combater pragas e reduzir os gastos com agrotóxicos. “É uma visão estratégica que também tem trazido benefícios econômicos”, acrescenta. Afinal, estando capitalizado pela presença integrada com a soja, é possível escolher o melhor momento para comercializar arroz.
Outra bandeira da cadeia tem sido a internacionalização. No total, entre 1,3 milhão e 1,5 milhão de toneladas da próxima safra serão exportadas para 55 países em cinco continentes. Com o dólar em alta, a tendência é manter a balança comercial positiva pelo quarto ano consecutivo, com saldo de 250 mil toneladas em 2015. “Além dos tradicionais Cuba, Venezuela e África, o projeto Brazilian Rice ainda deve abrir novos mercados na América Central e Oriente Médio”, explica o chefe de gabinete do Irga e coordenador da Câmara Setorial do Arroz, César Marques Pereira.
O setor do arroz deve, inclusive, servir de exemplo para a reestruturação do trigo. O presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Carlos Sperotto, garantiu que essa será uma das prioridades para 2015. A principal cultura gaúcha de inverno teve quebra de 56,5% na produtividade e, consequentemente, 52,2%, na colheita, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mesmo assim, a entidade projeta manutenção da área de cerca de 1,1 milhão de hectares para o trigo tendo em vista a demanda interna pelo grão.
Veículo: Jornal do Comércio - RS