A concorrência de produtos estrangeiros e a desaceleração da economia brasileira têm afetado a fabricação nacional de roupas e calçados especiais. Brasil está entre os cinco maiores mercados
O mercado de produtos esportivos vai movimentar R$ 30 milhões em 2018 no País, estima a Euromonitor. A cifra representa alta de 29% sobre os R$ 23,5 milhões em vendas no ano passado. A concorrência dos importados, porém, deve impedir a produção local de acompanhar esse potencial.
De acordo com o levantamento, as vendas na categoria de sportswear, que inclui itens de vestuário e calçados esportivos, cresceram 83,6% entre 2008 e 2013. Para o analista da Euromonitor, Alexis Frick, essa expansão se deve ao fascínio brasileiro por esportes, forte tendência de culto ao corpo e a predominância de uma moda casual com significativa presença de itens do vestuário esportivo.
"Hoje nós estamos entre os cinco maiores produtores mundiais na linha de esportivos e com um mercado consumidor grande", acrescenta o economista do Instituto de Estudos e Marketing Industrial (Iemi), Marcelo Prado, observando, entretanto, que o cenário econômico e a forte entrada de importados têm impactado os negócios.
Prado conta que a importação de calçados esportivos nos últimos anos quase dobrou, passando de 5,2 milhões de pares em 2009 para 9 milhões de pares em 2013. Enquanto a exportação caiu de 1,5 milhões para 735 mil pares na mesma base de comparação. Ele explica que esse avanço dos itens estrangeiros consumidos pelos brasileiros afetou a produção, que caiu de 81 milhões de pares para 76 milhões de pares entre 2009 e 2013. "Uma solução para reverter essa tendência negativa seria a criação de novos canais de vendas", disse.
O analista da Euromonitor destaca também o crescimento das vendas on-line e a diversificação da demanda. "O canal on-line é um ambiente propício para crescimento, isso por conta de algumas características específicas das compras nesse segmento, como, por exemplo, a padronização de tamanhos. Além disso, a popularização de outros esportes além do futebol, como as corridas de rua, têm impulsionado o crescimento de artigos com menor representatividade dentro do segmento."
Frick acredita também que a Olimpíada 2016 terá um papel importante na diversificação da prática de esportes no País, e é esperado um reflexo disso nas vendas do setor.
Efeito Copa
Se os jogos olímpicos têm potencial positivo, a Copa do Mundo teve um efeito contrário para a indústria brasileira.
"O impacto do evento foi abaixo do esperado, o que pode ser atribuído ao contexto macroeconômico e ao ambiente de insatisfação social no País", disse Frick.
A Cambuci, dona das marcas Penalty e Stadium, registrou queda de 50% na demanda por produtos licenciados pelos clubes no terceiro trimestre, afetada pela parada do Campeonato Brasileiro para realização do Mundial.
A Alpargatas, fabricante da Topper, Rainha e Mizuno, também foi afetada pela Copa, acumulando um recuou de 4,1% entre janeiro e setembro em relação ao ano passado.
Segundo a empresa, enquanto a Mizuno recuperou as vendas com alta de 15% no trimestre após a Copa, a Rainha e a Topper tiveram queda, pois o varejo ainda estava com estoques elevados.
"Nós temos pela primeira vez na Mizuno uma coleção intermediária, para fazer frente à redução na Copa", disse o presidente da Alpargatas, Márcio Utsch, em teleconferência no mês passado. Para as marcas Rainha e Topper a medida adotada será o corte de gastos.
Com estratégia semelhante, a Vulcabras, detentora da Olympikus e da Reebok, lançou dois novos produtos no último trimestre. O presidente da Vulcabras, Leonardo Rodrigues, destacou que a empresa voltou a ter lucro. "O terceiro trimestre foi marcado pelo retorno a lucratividade após mais de três anos e diante das incertezas que permeavam o cenário econômico e de mercado", afirmou durante a apresentação dos resultados do terceiro trimestre.
Custos
Marcelo Prado do Iemi avalia que uma solução para as fabricantes brasileiras aumentarem sua competitividade seria apostar na ampliação da cadeia de suprimentos e na redução de custos.
A Cambuci, por exemplo, consegui cortar em quase 16% suas despesas gerais entre janeiro e setembro sobre um ano antes, com a rescisão de contratos para fornecimento de material esportivo para clubes de futebol e a renegociação de contratos com prestadores de serviços diversos.
Veículo: DCI