As famílias de baixa renda devem ser as mais atingidas pelos reajustes de preços administrados este ano. Tarifas de ônibus e de energia elétrica farão com que a inflação percebida por essas famílias passe o ano todo pressionada e encerre 2015 em torno de 7,5%, um patamar ainda mais elevado do que a alta média de preços prevista para este ano. Em janeiro, o Índice de Preços ao Consumidor - Classe 1 (IPC-C1) subiu 2,00%, o maior porcentual mensal de toda a série, iniciada em janeiro de 2004, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV).
"Eu acho que tem chance de ficar (acima da média) durante todo o ano", afirmou o economista André Braz, pesquisador da FGV. Segundo ele, itens como a energia elétrica, que deve registrar reajustes salgados nos próximos meses, consomem uma fatia maior da renda dessas famílias e, por isso, serão determinantes para essa diferença.
A energia elétrica pesa 3,8% no orçamento da baixa renda, contra 2,8% na média das famílias. Só em janeiro, as tarifas mostraram alta de 8,88% no IPC-C1. "Os alimentos também dão muito o tom da inflação. Mas apostamos em manutenção da alta de alimentos, num quadro muito parecido ao do ano passado. Então, as tarifas devem pesar mais", explicou Braz.
Segundo a FGV, a alimentação compromete cerca de um terço dos gastos da baixa renda. Mas a energia elétrica, lembrou Braz, deve registrar aumentos significativos ao longo de todo o ano, complementados pela entrada em vigor do regime de bandeiras tarifárias - que cobra dos consumidores um adicional devido ao acionamento de usinas térmicas, de geração térmica - e seu provável encarecimento a partir de 1º de março.
Nas tarifas de ônibus, a diferença é ainda maior. O peso do item no IPC-C1 é de 6,9%, contra 3,09% no IPC-Br, que retrata a inflação sentida por todas as famílias. Em janeiro, as tarifas de ônibus ficaram 8,88% mais caras. "Uma alta como essa em um único mês é extremamente atípica", frisou o pesquisador.
Em fevereiro, com algum refresco nas tarifas de energia e o menor impacto da alta nas tarifas de ônibus, a inflação da baixa renda pode voltar a ficar abaixo da média. "Teremos um aumento de cerca de 7% na gasolina, mas o item pesa pouco no IPC-C1. Então, pode ser que o indicador fique abaixo (do IPC-Br), mas isso não é uma tendência", disse Braz.
A inflação média sentida pelas famílias cuja renda mensal fique entre 1 e 33 salários mínimos é medida pelo IPC-Br. A previsão da instituição é de que esse indicador registre uma alta de 7,3% em 2015, após avanço de 6,87% no ano passado. Mas o IPC-C1, que mensura o impacto dos preços no bolso das famílias que ganham entre 1 e 2,5 salários mínimos, deve ser maior. "Ficará em torno de 7,5%", projetou Braz.
Veículo: Diário de Pernambuco