A última sexta-feira começou com mais de 50 bloqueios espalhados pelo País, mesmo com o início das multas; agricultores gaúchos ainda pleiteavam redução nos preços do diesel
Passo Fundo e São Paulo - Apesar da ação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para impedir os bloqueios das rodovias, o movimento que teve início no dia 19, com caminhões interrompendo o trânsito em diversas estradas brasileiras, ganhou adesão de produtores rurais no Rio Grande do Sul.
No estado em que mais de quatro milhões de litros de leite foram perdidos em função da paralisação dos caminhoneiros, o Rio Grande do Sul, produtores rurais apoiavam o manifesto em busca de redução no preço do diesel, mesmo diante das dificuldades de negociação com o governo federal. Em nota, o Palácio do Planalto informou ontem que 80% dos protestos estão concentrados na região Sul do País.
Depois de quatro dias consecutivos bloqueando a rodovia estadual RS-153, que dá acesso à capital gaúcha, o diretor do Sindicato Rural Passo Fundo, Erny João Lago, teve que retirar os caminhões e tratores da estrada após a chegada de um oficial de justiça que aplicaria a multa estabelecida pelo Ministério da Justiça, entre R$ 5 mil e R$ 10 mil por hora. "Tivemos perdas com a manifestação, mas a redução de R$ 0,20 no preço do diesel já seria de bom tamanho", afirma. Eram mais 20 agricultores posicionados no meio da via.
O produtor de soja, milho, trigo, leite e criador de gado de Passo Fundo (RS) conta que, à medida que o movimento foi adquirindo corpo, os caminhoneiros pediram o auxílio dos agricultores da região e foram atendidos. Para Lago, a situação foi chegando ao final tendo o governo como "vitorioso". Entretanto, a informação entre os integrantes era de que os caminhoneiros sairiam de um bloqueio e seguiriam para outro.
Também na última sexta-feira (27), a via federal BR 285 também teve bloqueios encerrados pela polícia militar (PM). Questionado sobre o desfecho dos protestos, um agente que não se identificou disse ao DCI que a intenção era encerrar de maneira pacífica, assim como começou.
Na semana passada, a presidente Dilma e a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, afirmaram que não haveria modificação na Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) para atender os manifestantes e reduzir o valor do óleo diesel. Sendo assim, os produtores de Passo Fundo aguardavam medidas estaduais que trouxessem algum tipo de auxílio à produção.
Perdas
O Sindicato das Indústrias de Leites e Produtos Derivados (Sindilat-RS) contabilizou 4 milhões de litros que deixaram de ser recolhidos de um total de 13 milhões de litros processados por dia.
Em um único posto de resfriamento, cerca de 200 mil litros de leite tiveram de ser jogados fora porque não havia caminhão para levar o alimento até a indústria. A Cotrisal, em Sarandi, descartou 740 mil litros, estocados há três dias e impróprios para o consumo.
No porto gaúcho de Rio Grande, o terceiro maior corredor de exportações de grãos do País, apenas metade do volume de mercadorias agendadas estavam chegando. De acordo com a assessoria de imprensa na unidade, possivelmente haveriam problemas para carregamento dos navios .
Além do porto de Rio Grande, o de Paranaguá, no Paraná, o segundo maior canal de exportação de grãos do país, tem enfrentado grandes problemas no recebimento de cargas e só conseguiu manter o carregamento de navios devido aos estoques nos silos do porto.
Nas carnes, foram registrados diversos relatos de morte de aves por falta de ração, principalmente, nos estados do Paraná e Santa Catarina.
Os frigoríficos da Cooperativa Aurora e da JBS reduziram o processamento nos últimos dias, e o presidente do conselho de administração da BRF, Abílio Diniz, declarou que a companhia estava tendo dificuldades para cumprir seus contratos de exportação. Duas fábricas da BRF tiveram o processamento interrompido.
Unidades parando
Sessenta unidades industriais de processamento de aves e suínos estão "parando" no Brasil devido aos protestos dos caminhoneiros nas estradas, diz o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra.
O abastecimento interno e externo de carnes também está prejudicado, disse Turra.
"Estamos extremamente preocupados, porque há 60 unidades industriais parando no Brasil. Redução de mais de 50% no número de abates, tanto de suínos como de aves", afirmou Francisco Turra.
De acordo com o presidente da associação, os "supermercados estão reclamando da falta de produtos" e começam a chegar reclamações de compradores externos "devido a contratos de exportação não realizados, não cumpridos".
O Brasil é o maior exportador global de carne de frango.
Veículo: DCI