Preços seguem em baixa e produtores são pressionados pelo aumento de custos; bloqueio nas rodovias gerou prejuízos de 15 milhões de litros no Rio Grande do Sul
O cenário de queda nos preços pagos ao produtor alimenta a expectativa de redução na produção de leite entre representantes do setor. Diante da baixa no consumo doméstico, as exportações aparecem como uma saída, mas o alto custo tira a competitividade do País no mercado externo.
O presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Rodrigo Alvim, conta que, com a desaceleração da economia, a demanda interna não acompanhou o crescimento da produção nacional. Isto fez com que os preços praticados seguissem em movimento de baixa.
"Isso traz um problema grave para a produção primária. Preços caindo com custos subindo é uma conta que não fecha", enfatiza o executivo.
Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) mostram que a média de valores ao produtor para fevereiro ficou em R$ 0,9226 por litro. Em contrapartida, os custos de produção, segundo Alvim, variam entre R$ 0,70 e R$ 0,90 de acordo com a região.
"O leite é diferente de outros segmentos. A inflação aumenta, cai o poder aquisitivo da população e isso gera uma reação em cadeia. Não tem como obter uma melhora, sem melhorar a situação de quem consome, por isso já estamos observando queda na produção", acrescenta o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Leite Brasil), Jorge Rubez.
Produção
De acordo com a entidade nacional, em 2014, foram produzidos 33 bilhões de litros de leite. Os principais estados produtores são Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Rubez afirma que ainda não foi possível mensurar, mas o início de 2015 já apresentou diminuição de volume no comparativo anual.
Da pecuária leiteira gaúcha são extraídos diariamente cerca de 15 milhões de litros. Em fevereiro, o setor ainda foi prejudicado pelo bloqueio nas estradas que impossibilitou a entrega do produto por dias.
"Estimamos uma perda em torno de 15 milhões de litros que foram literalmente jogados fora pelos produtores", avalia o presidente da Associação Gaúcha de Laticinistas e Laticínios (AGL), Ernesto Krug.
Para Alvim, a redução de volume no mercado pode favorecer a recuperação dos preços no curto prazo. O executivo destaca que a partir do próximo mês começa a entressafra, as pastagens perdem qualidade e os produtores precisam gastar mais para alimentar os animais, o que também eleva os valores praticados, isto se as condições climáticas estiverem dentro da normalidade.
Recuperação
A fim de obter soluções para a pecuária leiteira, o Ministério da Agricultura formou um grupo de trabalho que deve apresentar um projeto para o setor no próximo dia 20. Questões acerca de melhoria genética, dos padrões de qualidade e redução de custos de produção devem fazer parte do planejamento, "na tentativa de sermos mais competitivos e podermos exportar o leite", diz Alvim.
Apesar de parecer a melhor solução, no cenário internacional a tendência de preços para o produto não está tão favorável. Uma avaliação do Rabobank alerta que o menor fluxo de leite da Nova Zelândia - maior produtor global - foi o principal fator a impulsionar a valorização recente da commodity. Entretanto, "uma recuperação mais robusta no mercado global de lácteos ainda deve demorar alguns meses", informou à imprensa, em nota.
China ainda reduziu sua participação nas importações, uma vez que passa por um momento de menor crescimento da demanda e melhora na oferta local.
No mercado interno, o presidente da associação gaúcha espera recuperação para o segundo semestre deste ano. Rubez, da Leite Brasil, ressalta que seria necessário chegar a um consenso com o comércio varejista que "muitas vezes não repassa a redução de preços aos derivados, por exemplo".
Veículo: DCI