O lucro líquido de R$ 21,8 milhões obtido em 2008 pelo Assai, rede cujo controle foi adquirido pelo Grupo Pão de Açúcar em novembro de 2007, mostra porque as grandes cadeias de supermercados passaram a depositar suas esperanças no formato de "atacarejo", lojas populares tipicamente brasileiras que mesclam atacado e varejo. Analistas do setor avaliam que o Carrefour também acertou em cheio ao comprar o Atacadão, maior cadeia de "atacarejo" brasileira, em abril de 2007. A aquisição deu fôlego e melhorou os resultados do grupo francês no Brasil.
Os resultados do Assai são tão favoráveis que a bandeira será prioridade no plano de expansão do Pão de Açúcar este ano. Em teleconferência com analistas de investimentos, o presidente executivo do Grupo Pão de Açúcar, Claudio Galeazzi, anunciou ontem que a participação do Assai dentro do grupo poderá dobrar nos próximos meses. Com vendas brutas de R$ 1,452 bilhão em 2008, a rede de "atacarejo" respondeu por 7% do faturamento da companhia, de R$ 20,8 bilhões.
De Paris, Abilio Diniz, acionista e presidente do conselho do Pão de Açúcar, declarou aos analistas que a situação do Brasil é "privilegiada". "A gente sente mais a crise fora do Brasil", afirmou o empresário, que estava ontem na sede do Casino, que detém 50% do capital votante do Grupo Pão de Açúcar.
Enquanto o Assai trouxe retorno ao Pão de Açúcar em apenas um ano de operação, a Sendas, maior cadeia de supermercados do Rio de Janeiro, ainda não saiu do vermelho apesar de todos os esforços que vem sendo realizados para melhorar sua eficiência operacional desde 2004, quando o grupo comprou 50% do capital da varejista. Em 2008, o prejuízo da Sendas foi de R$ 19,5 milhões.
Na última linha do balanço, o ganho obtido pelo Assai foi praticamente anulado pelas perdas da operação carioca. Enéas Pestana, vice-presidente financeiro do Grupo Pão de Açúcar, afirma que, do ponto de vista operacional, a Sendas vai muito bem e é um excelente negócio. O maior problema da varejista são suas dívidas de R$ 1,2 bilhão, mas essa torneira só poderá ser fechada quando o Pão de Açúcar comprar os 50% da companhia que ainda pertencem aos herdeiros de Arhur Sendas. As negociações ficaram suspensas desde a morte do empresário, em outubro de 2008, e foram retomadas neste mês. Devido ao seu endividamento, as despesas financeiras da Sendas consumiram R$ 134,7 milhões, ou boa parte da geração de caixa da varejista, que cresceu 110% e alcançou R$ 199,6 milhões em 2008.
É inegável, porém, que o modelo do Assai parece dar muito mais certo. Tanto assim que o Pão de Açúcar anunciou ontem que vai converter mais três lojas da Sendas para a bandeira Assai devido aos bons resultados apresentados pelas unidades já convertidas no Rio. Em São Paulo, algumas lojas do grupo também migraram para o "atacarejo", processo que deve ser levado adiante em 2009.
"Há caso em que as vendas cresceram até cinco vezes nas lojas convertidas para a bandeira Assai. Em média, as vendas aumentaram duas ou três vezes", afirmou Roberto Tambasco, vice-presidente comercial do Pão de Açúcar. O Assai ocupa o topo da lista nos planos de expansão do grupo este ano. O orçamento da companhia para 2009, excluindo aquisições, prevê investimentos de até R$ 1,2 bilhão, mas a empresa ainda não decidiu se todo esse montante será desembolsado de fato. Por enquanto, os investimentos já programados totalizam R$ 500 milhões, dos quais R$ 160 milhões devem ser destinados à compra de terrenos.
As margens de lucro do Assai, no entanto, não são nada brilhantes se comparadas aos supermercados e a expansão da rede poderá pressionar as margens do Pão de Açúcar daqui para frente. Com um modelo baseado em preços baixos, a margem bruta da rede de "atacarejo" foi de apenas 15,4% em 2008, enquanto o Grupo Pão de Açúcar operou com margens de 26,4%.
Veículo: Valor Econômico