Brasil começa a se firmar como produtor de pêssego

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Tradicional importador de pêssegos, o Brasil avança rapidamente para a autossuficiência na produção da fruta. Nos últimos anos, a combinação de aumento de produção e o lançamento de novas variedades acabaram "jogando para escanteio" as importações de pêssego, cujo reduto histórico na América Latina limitava-se à Argentina e ao Chile.

 

Em cinco anos, a produção brasileira registrou aumento de quase 30%, passando de 218 mil toneladas em 2002 para 280 mil toneladas em 2006, de acordo com um levantamento de dados do IBGE e dos Estados produtores da fruta. A expectativa do setor é de continuidade na tendência altista para a safra 2007/08. 

 

Por outro lado, as compras da Argentina e do Chile, com janelas de safra similares ao Brasil, perdem força: 73% de queda entre 2005 e 2006, 12% entre 2006 e 2007. Dados preliminares sugerem recuo de outros 22,5% no período seguinte. "O Brasil está muito perto da autossuficiência no pêssego. Estamos aprendendo a trabalhar a fruta, que hoje tem muito mais qualidade", diz Maurício Ferraz, gerente do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf). 

 

Isso não quer dizer, no entanto, que a fruta importada deixará de ser consumida no país. No período de entressafra, que acaba de se iniciar e se estenderá até agosto, variedades europeias, como as da Espanha e as da Grécia, entrarão em cena nas grandes redes varejistas de alimentos. 
"Mas em meses de produção [de setembro a fevereiro, dependendo da região] o que tende a dominar cada vez mais é o pêssego brasileiro", explica Ferraz. 

 

O salto na qualidade tornou o pêssego nacional maior e com a pele mais bonita (sem manchas), e é resultado de pesquisas da Embrapa, responsável por quase 30 das 40 variedades produzidas no país. Influenciou também o ganho em resistência à alta umidade relativa do ar nas áreas produtoras e às chuvas no período de floração, o que propicia doenças. 
"O câmbio favoreceu apenas nestes últimos meses, mas a queda na importação é uma tendência anterior a isso", diz Ferraz. 

 

Segundo Maria do Carmo Raseira, pesquisadora da Embrapa Clima Temperado, em Bento Gonçalves (RS), o avanço foi crucial para os bons resultados da cultura nos Estados do Sul - Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná -, onde 85% das variedades plantadas foram desenvolvidas pela autarquia. "A qualidade do nosso pêssego não fica atrás dos importados", diz ela. "Um sinal disso é que a Embrapa já foi procurada por representantes da África do Sul, México e até do Chile para conhecer variedades locais. Sinal de que não estamos mal no mercado internacional". 

 

Outro fator que ganha relevância é o consumo de suco industrializado de pêssego, que parece ter caído no gosto do consumidor brasileiro. Este, aliás, será o grande desafio das indústrias processadoras: fazer a adaptação de parte de seu parque industrial hoje voltado para a produção do pêssego em calda (em queda) para a produção de polpa (em alta). 

 

Maior produtor nacional, o Rio Grande do Sul fechou a última safra com um produção total de 107 mil toneladas de pêssego - 51 mil toneladas para mesa e 56 mil toneladas para indústria. 
"Tivemos um ano de bom volume e teor de açúcar, já que choveu menos", explica o agrônomo Antônio Conte, da Emater-RS. Cerca de 70% da fruta produzida no Estado gaúcho é destinada a Estados vizinhos. De acordo com Conte, somente o polo de Bento Gonçalves, na porção Sul do Estado, é responsável por 16% da fruta enviada ao centro de distribuição de São Paulo (Ceagesp). 

 

No chamado Circuito das Frutas, que abrange dez municípios do Estado de São Paulo - segundo maior produtor nacional de pêssegos - a produção ganha corpo ao lado de frutas tradicionais da região, como o morango. 
"A gente nota que a demanda vem aumentando com o maior poder aquisitivo da população", diz Waldir Parise, produtor de Jarinu, município que concentra, junto com Atibaia, cerca de 500 hectares plantados, a maior parte da produção da região. 

 

A região tem ainda uma peculiaridade: mais de 70% do pêssego plantado é precoce, com início de colheita em meados de agosto até novembro. "Isso é possível por causa das cultivares e das condições climáticas - temos risco menor de geada. O Sul não pode antecipar com risco de perder com a geada na época em que as plantas estão florindo". 

 

Veículo: Valor Econômico


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