Amarca inédita de 209,5 milhões de toneladas da safra agrícola 2014/2015 é motivo de comemoração para o agronegócio. A safra 2015/2016, no entanto, já causa certo desconforto aos produtores, por um conjunto de fatores, incluindo os custos logísticos.
A infraestrutura de transporte não tem acompanhado o elevado crescimento da produção agropecuária, especificamente a de grãos. A principal rota de escoamento da safra do CentroOeste em direção ao Sul — e, em menor escala, em direção aos portos do Norte —é a BR-163, inaugurada em 1976 e que até hoje não está asfaltada em toda a extensão. Daquela data até o presente, a produção do Centro-Oeste saltou de 5,6 milhões para 88 milhões de toneladas de soja e milho, principalmente. A região foi responsável por 74,6% do total exportado de milho em 2014.
Na última década, apesar das deficiências no escoamento, o agronegócio conseguiu compensar os problemas logísticos com ganhos de produtividade, ajudado pelos bons ventos trazidos pela alta das commodities agrícolas. Assim, um dos grandes dilemas do Centro-Oeste consiste em manter a competitividade no cenário atual de declínio dos preços das commodities.
Segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT), problemas no pavimento elevam em 30,5% os custos operacionais, num desperdício estimado em R$ 3,8 bilhões por ano. Enquanto o custo de transporte de soja entre Sorriso (MT) e Santos é de R$ 260 por tonelada, o trecho entre Sorriso e Barcarena (PA), via BR-163, é de R$ 206 por tonelada. A participação do frete na cotação média FOB (free on board) pode chegar a 32% ou mais para o produtor de soja do Mato Grosso (em reais por tonelada), considerando, por exemplo, o trecho entre Sorriso e Santos.
Outro desafio para o Centro-Oeste está ligado à elevação nos custos de produção, resultantes da alta do dólar na aquisição dos insumos importados, bem como do aumento da taxa de juros do novo Plano Safra. O câmbio ainda beneficia o setor na formação do preço do produto, mas o penaliza na elevação dos custos.
No cenário atual, o setor depende crucialmente de avanços em infraestrutura de transporte, que se traduzam efetivamente em ganhos de rentabilidade, sem o que o agronegócio poderá perder fôlego.
A abertura do escoamento pelos portos do Norte é alternativa que amplia de forma significativa a competitividade da região. Há grande expectativa de melhoria da rota do Mato Grosso para os portos do Arco Norte, cuja utilização poderá ser ampliada na próxima safra, trazendo redução nos custos de transporte para a exportação das safras de soja e milho do Mato Grosso. A nova rota rodofluvial integra a BR-163 ao Rio Tapajós em Miritituba (PA), com destino aos terminais graneleiros privados nos portos de Santarém (PA), Vila do Conde (PA) e Santana (AM).
Veículo: Jornal O Globo - RJ