Confiança do consumidor cai à metade

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                                                            Itaú Unibanco revisa sua previsão para o PIB deste ano para retração de 3,2%.

Crise política, inflação e desemprego crescentes estão derrubando a confiança do brasileiro na economia a cada mês. Em outubro, o Índice Nacional de Confiança do Consumidor ( INC) da Associação Comercial de São Paulo ficou em 74 pontos, ante 79 em setembro, numa escala de zero a 200. Desde julho, o índice está no terreno do pessimismo, abaixo dos cem pontos, barreira que não foi ultrapassada nem durante o Mensalão, em 2005, nem na crise de 2009.

Outubro marca o pior resultado desde o início da série histórica, em 2005, e tombo de 50% sobre o mesmo mês de 2014. Para Marcel Solimeo, economistachefe da entidade, é tendência inequívoca de queda. Ele alerta para a necessidade de um aceno do governo que traga “alento” próximo, para evitar deterioração ainda maior da economia:

— Já são cinco meses de mínimas históricas. Sinaliza falta de perspectiva, criando um ciclo vicioso. As pessoas compram menos, o comércio vende menos, as indústrias produzem menos. O resultado vem em corte de emprego e receita.

A previsão é de queda de vendas no varejo nos próximos seis meses, continua ele, mesmo com picos neste fim de ano, puxados por Black Friday e o Natal.

A pesquisa, realizada pelo Instituto Ipsos, mostra o Sul com o pior resultado do mês: 55 pontos, ante 77 em setembro. Isso reflete as dificuldades financeiras do poder público local e a crise na indústria. No Sudeste, o índice ficou em 75, acima dos 72 de um mês antes. No Norte e CentroOeste, passou de 77 para 79. No Nordeste, recuou de 87 para 89. Entre os estados, São Paulo teve o pior resultado: 68.

A confiança do consumidor está em linha com as perspectivas pessimistas para a economia. O Itaú Unibanco revisou para baixo suas previsões para o PIB e para o desempenho fiscal do país. Para este ano, o banco espera agora retração de 3,2% na atividade, contra 3% antes. Para 2016, a mudança foi ainda mais intensa: de alta de 1,5%, passou à queda de 2,5%.

— A razão principal é aceitar a realidade. O fato é que ( a situação econômica) não estabilizou. Se a economia continuar no nível atual, o PIB do ano que vem já vai dar menos 1,7%. Essa estabilização, por si só, seria um milagre. Como achamos que não haverá esse milagre, achamos que haverá alguma piora adicional, uma queda de 2,5% — afirmou o economista- chefe do banco, Ilan Goldfajn.

Segundo ele, “haverá alguma estabilização ano que vem”. Apesar disso, não se vislumbram no horizonte sinais de solução para o que ele considera o “núcleo do problema”: a questão político- fiscal:

— Recessões não duram para sempre. Mas ( esta) está durando porque o núcleo do problema é a questão político- fiscal. O Brasil está precisando resolver o problema fiscal, e precisa do Congresso. O Executivo não tem espaço para fazer sozinho.

O economista acredita que o entrave político paralisa o investimento mesmo em áreas que vão bem, como os setores que se beneficiam pelo câmbio mais depreciado. Na visão de Goldfajn, mesmo esses segmentos não pretendem investir por temerem alta de carga tributária.

— O investimento foi o fator que foi pior do que imaginávamos — disse.

 



Veículo: Jornal O Globo - RJ


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