Varejo europeu dita as regras e afeta citricultura do Brasil

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Com a propaganda negativa no maior mercado consumidor de suco brasileiro, outras bebidas ganham espaço nos supermercados da região; China ainda é promessa para o setor no país.

Basta uma visita a qualquer supermercado alemão para compreender os rumos do segmento de sucos e, de fato, a perspectiva não é das melhores. No país líder em consumo per capita da bebida, dentre os integrantes da União Europeia, os espaços do varejo são destinados a outros subprodutos de frutas, como as águas com sabores e gaseificadas.

Não por acaso há uma retração gradativa na demanda por sucos na região e as companhias brasileiras já sentem esse reflexo. A estrutura do varejo na Alemanha é ligeiramente distinta do que é encontrado no Brasil.

Os mercados convencionais se parecem com os atacadistas brasileiros, nos quais as bebidas ficam empilhadas ao centro dos corredores e a lei do menor preço vigora. Não há prateleiras. Os gaseificados, de players tradicionais ou 'genéricos' tomam conta de alguns dos maiores volumes apresentados. As águas com sabores respondem pelo menor valor, pois são elas que, ao lado dos multivitamínicos, têm substituído os sucos no cotidiano europeu. "Na Europa, está acontecendo um fenômeno. Os supermercados buscam volume em cima da promoção de outros produtos, são eles quem ditam a concorrência de acordo com o que for mais competitivo para eles", disse o diretor da WeserGold, Thomas Mertens, uma das maiores fabricantes de suco da Alemanha.

De acordo com um levantamento da consultoria de varejo GFK, apresentado por Mertens, os sucos de laranja e maçã ainda são as bebidas mais consumidas pelos europeus, porém em declínio. Em contrapartida, os multivitamínicos já assumem a terceira posição e seguem crescentes. As posições quatro e cinco do ranking são ocupadas por mixes de produtos à base dos sucos comuns de laranja e maçã, respectivamente.

Conforme publicado no DCI, dados da Associação Europeia de Sucos de Frutas (AIJN) indicam que os alemães registraram consumo de 2,4 bilhões de litros de sucos e néctares (com menor percentual da fruta) em 2014, seguidos pela França que consumiu 1,55 bilhão. No entanto, a demanda total por estas bebidas na União Europeia teve retração de 10,02 bilhões de litros em 2013 para 9,7 bilhões no ano passado.

O gerente geral da Louis Dreyfus Commodities, Murilo Parada, destaca que este cenário começou a ficar mais preocupante nos últimos três anos. "Houve uma promessa de crescimento nos emergentes que não se confirmou. A China nunca foi uma realidade para o suco de laranja brasileiro como foi para outras commodities. Tínhamos uma esperança de que haveria uma compensação com os emergentes que nunca se materializou em volume a ponto de transformar a figura do negócio. Sendo assim, a Europa nos preocupou porque era nosso principal mercado", lembra.

Os executivos contam que houve uma forte propaganda informando que o suco de laranja, em especial, trazia problemas para a saúde, tais como o ganho de peso. Desta forma, o setor que havia se constituído com base no suco 100% passou a se adaptar às condições do consumidor, que agora exigia percentuais menores da fruta na bebida. "Começamos a perder porque havia um volume menor da fruta", diz Parada. O consumo entre os chineses já nasceu com outra dinâmica, onde os néctares são os mais procurados. O gerente da Dreyfus diz que, embora muito insipiente, a China importa o suco tipo NFC do Brasil, fato que lança uma nova expectativa de avanço neste mercado.

"Uma tendência forte que está acontecendo é a necessidade do consumidor de entender a origem do produto e os processos utilizados em sua fabricação. Apostamos em transparência nisso", acrescenta o diretor da WeserGold.

Caminho do suco

Após a fruta sair dos pomares, passar pelo processamento e, em seguida, pelos portos brasileiros, o suco de laranja tem como uma de suas principais entradas o terminal belga de Ghent. Lá estão instaladas as operações da Dreyfus e da Citrosuco. A Cutrale recebe o produto por Roterdã, na Holanda.

Na estratégia da Dreyfus o destaque vai para os tanques flex, removíveis dos navios e com possibilidade de uso por outros sucos, além do tradicional sabor laranja - apesar de nunca terem substituído o produto tradicional. Ao sair da embarcação congelada, a bebida é sugada para outros tanques responsáveis pelas etapas de blend (misturas), inclusão de polpa, etc.

"Uma dificuldade que temos é a de explicar para o consumidor que, de acordo com a qualidade da safra, o suco pode estar mais ou menos suscetíveis à produção das variações NFC ou FCOJ [concentrado]. Nestes casos estamos levando em conta o nível de acidez da fruta e outras especificidades", contam o gerente de controle de qualidade, Rick Sabiran, e o gerente da planta, Hans Havelaar, da Dreyfus.

 



Veículo: Jornal DCI


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